Vertiras & Mendades

JAIR BOLSONARO saiu ontem em passeata, ministro Augusto Heleno, do GSI, a tiracolo. O mote era a acusação de abuso de autoridade pelo ministro Celso Mello, no divulgar o vídeo reunião do ministério denunciada pelo ex-ministro Sérgio Moro. Uma nota brandia o teor da lei de abuso da autoridade sobre o crime de revelar fatos sob sigilo de Estado, como a reunião do ministério. Portanto, o ministro Celso Mello teria cometido crime.

Quem não tem QI de bolsoignaro e alguma memória se pergunta: não foi isso exatamente que fez o então juiz Sérgio Moro com peça de autos sobre a Lava Jato? Lembram? Aquela que foi divulgada entre o primeiro e o segundo turnos das eleições; aquela que ajudou a eleger Jair Bolsonaro; aquela que levou Sérgio Moro ao ministério da Justiça – do qual saiu, diz ele agora, por não impedir investigação policial de verdades incômodas a Jair Bolsonaro, filhos e amigos.

Nesta hora o blogueiro puxa um George Orwell, no 1984, sobre as variantes do mesmo fato, que se transformam em verdades específicas conforme o interessado; aquilo que é verdade para um é mentira para seu inimigo, e vice versa. E o senador dos EUA (Hiram Johnson, sempre ignorado), na sua clássica afirmação de que na guerra a primeira vítima é sempre a verdade. Estamos em guerra e a mentira campeia. Só não vêm os que preferem a cegueira. E a guerra.

Se o ministro Mello cometeu crime, Moro também o fez. Se Mello prejudica Bolsonaro, Moro beneficiou Bolsonaro. Na campanha, Bolsonaro extraiu as verdades que o elegeram; no governo chama de mentiras as verdades que o prejudicam. Portanto, a manipulação da verdade está a serviço da guerra e do estado autoritário. FHC declarou ontem que os militares voltaram ao poder e estão gostando dele. No momento são os generais. Logo chegam o cabo e o soldado.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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