© Ricardo Stuckert
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em prantos, pediu aos brasileiros que usem camisas vermelhas, em protesto contra a Operação Lava Jato. O tiro pode sair pela culatra.
A história recente do Brasil mostra que convocar a população para ir às ruas vestindo esta ou aquela cor nem sempre é uma boa ideia. No dia 13 de agosto de 1992, o então presidente Fernando Collor de Mello, que era alvo de uma CPI no Congresso, usou uma solenidade com taxistas no Palácio do Planalto para, aos gritos e socos no púlpito, convocar “todo o Brasil” a ir às ruas, no domingo seguinte, dia 16, vestido com as cores da bandeira do país para mostrar que os defensores do impeachment estavam em minoria. “A minoria atrapalha, a maioria trabalha. Vamos mostrar que já é hora de dar um basta a tudo isso. Vamos inundar o Brasil de verde e amarelo”, disse Collor, em referência aos que defendiam o seu afastamento.
O apelo foi reforçado em um pronunciamento em cadeia de rádio e televisão dois dias depois. Mas o tiro saiu pela culatra. Em várias cidades do país, as pessoas adotaram o preto, com roupas e bandeiras nas fachadas das casas e dos prédios. A reação popular impulsionou a movimento pelo impeachment. No dia 29 de setembro, a Câmara aprovou por 441 votos a favor e 33 contra a abertura do processo contra o então presidente. O processo de impeachment foi instaurado no Senado e, no dia 2 de outubro, Collor foi afastado da Presidência da República, sendo substituído por Itamar Franco. Em dezembro, antes de o Senado aprovar a perda de seu mandato, Collor renunciou ao cargo para o qual havia sido eleito em 1989.
O Globo