Já aconteceu de você, ao olhar para uma pessoa da mesma idade, pensar: “eu não sou assim tão velho”? Isso acontece também quando encontra um velho amigo, alguém que conheceu na juventude ou estudou com você?
Como nossa percepção da passagem do tempo é subjetiva, acabamos nos acostumando com as mudanças que acontecem ao nosso redor, e elas passam a parecer menos radicais… Por isso, quando vemos nossos amigos de tempos atrás, as mudanças que eles sofreram parecem mais acentuadas, assim como se nosso espelho fosse mais camarada…
Costumo brincar com minha mulher usando uma frase que aprendi com o Jaime Lerner após ter acompanhado ao elevador um ator de TV e teatro que o visitou no Palácio Iguaçu. Ao voltar à sala dele comentei:
– “Você viu como ele envelheceu?”
A resposta foi de bate-pronto, ao estilo JL:
– “E nós não, né?”
A história a seguir mostra isso com muito bom-humor:
“Estava sentada na sala de espera para a consulta com um novo dentista, quando observei o seu diploma na parede.
Li o seu nome e recordei de um moreno alto que tinha esse mesmo nome. Era da minha classe do colegial, uns 30 anos atrás e eu me perguntei se seria o mesmo rapaz por quem eu tinha me apaixonado à época.
Entrei na sala de atendimento e, imediatamente, afastei esse pensamento.
Esse homem grisalho e quase calvo, baixo, gordo, enrugado, era demasiadamente velho e desgastado para ter sido o meu amor secreto.
Depois que ele examinou os meus dentes, perguntei se ele tinha estudado no Colégio Santa Cecília.
– “Sim” – ele respondeu.
– “Quando se formou?” – perguntei.
– “Em 1973. Porque esta pergunta?”
– “É que… Bem… Você era da minha classe” – exclamei.
E então aquele velho horrível, cretino, careca, barrigudo, flácido, lazarento, esclerosado, filho da puta, me perguntou:
– “A senhora era professora de quê?”