William Waack e a qualidade do jornalismo na TV e na internet

No vazio de qualidade das comunicações no Brasil pelo menos uma notícia boa apareceu esta semana. William Waack está fechando contrato com a BandNews onde pode estrear um programa na TV por assinatura e depois na TV aberta, em prazos de acordo com cláusula de quarentena de sua rescisão com a Rede Globo, um ano no primeiro caso, seis meses no segundo. Como todo mundo deve saber, a saída do jornalista foi causada em tese pelo vazamento de um vídeo tolo de bastidores de gravação, inflado criminosamente com a injusta acusação de racismo atiçada pela esquerda nas redes sociais.

Este foi mais um estrago das batalhas vazias que esse pessoal arruma o tempo todo, que são um complicador muito forte da crise brasileira. Já foi pior quando o partido da raiva detinha o poder e podia usar a máquina contra qualquer um que fosse julgado como alvo de ocasião. Foi pesado o efeito da pressão da máquina nas mãos da esquerda. O duro foi aturar até jornalistas e sindicatos do setor aplaudindo a falência de publicações e demissão de colegas, sem levar em conta o desmonte causado em um setor essencial para qualquer país, ainda mais na situação de um país que precisa levantar-se, como acontece com o Brasil.

O resultado foi desastroso no setor de comunicações, de duas formas. Pelo abate e intimidação de vozes de qualidade e pela doutrinação de uma juventude que entra no mercado de trabalho já com a cabeça feita. Existem os que fizeram disso um meio de vida e tem também os profissionais ingênuos politicamente. Estes atuam com o engano implantado em suas mentes por um ensino superior dominado por doutrinários de esquerda. Juntam-se doutrinação e incapacidade técnica. Os coitadinhos pensam que atuam com os melhores ideais, quando na verdade são apenas instrumentos de projetos de poder baseados em fórmulas comprovadamente falhas e até criminosas historicamente.

Independente do que se pense de William Waack, sua demissão foi definida neste clima de manipulação e intimidação, sistema que depois de implantado artificialmente por meio da educação e o aparelhamento parece que agora anda sozinho. A Rede Globo errou tecnicamente na demissão de Waack, apesar de sua saída aparentemente fazer parte de questões políticas internas — o vídeo vazado tem todo o jeito de ter sido apenas pretexto para este acerto de contas na luta interna por poder. Digo “erro técnico” porque sua qualificação profissional é do tipo que pode alterar com qualidade o conjunto do trabalho de uma empresa. Se a Globo aproveitou com toda a amplitude suas qualidades profissionais, isso é outra questão, afeita também ao jogo de forças interno e suas implicações externas, com demonstrações muito claras de que até o momento o efeito não é bom na qualidade jornalística da emissora.

A Globo acabou ficando sem alguém muito competente, especialmente em uma área sempre importante e de ainda mais peso nos tempos em que vivemos: a da política internacional. Cito esta área pela condição de terra arrasada da cobertura internacional no jornalismo brasileiro, no entanto Waack é um jornalista completo, se dando muito bem na análise política e na economia, com muita capacidade de informação e interpretação dos fatos. Suas avaliações sobre as variadas crises dos últimos tempos são de inteligência rara, o que o coloca evidentemente sob a mira de um projeto de poder que parece ainda meter medo. Se este clima de medo teve influência na sua demissão, pode ser que um dia as razões venham ao conhecimento público.

É admirável a qualidade das publicações que o jornalista colocou em pouco tempo no ar na internet em seu canal no Youtube, o Painel WW. Nem vou falar de “volta por cima” porque pelo material apresentado pelo jornalista e a forma política da transição a condição é de uma mudança de qualidade. Para melhor. Na apresentação de seu canal na internet, num vídeo na cabeça da página, pode-se pegar uma menção de causa e efeito, quando ele diz meio brincando que “não tem nenhum chefe no ponto falando comigo”. De fato, pela qualidade dá para notar.

Houve época em que quando ocorria algum problema parecido a Globo mantinha profissionais desse porte em geladeira de luxo. Por economia ou outra razões deixaram de fazer isso com William Waack, que depois do vazio criado no lugar de onde saiu, agora pode vir a fortalecer uma emissora concorrente. O problema maior da Globo com isso nem é o da TV aberta, mas da TV por assinatura — por onde o profissional deve começar —  e mais ainda pela interação da televisão com a internet, na criação dessa conexão do jornalismo com as novas tecnologias, sintonia essencial para a sobrevivência do jornalismo na TV, que Waack mostrou em pouco tempo que sabe fazer muito bem.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em José Pires - Brasil Limpeza e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.