Tempo – 2008. Eu, prefeito

Hoje, gentil leitor, último dia da anticampanha da nossa anticandidatura à prefeitura de Curitiba. Como anticandidato a vice, na mesma chapa, o escritor Dalton Trevisan, também chamado por muitos, inclusive por ele mesmo, de Vampiro. À frente de tudo, do nunca assaz louvado Partido da Utopia, o multimídia da troça e da pilhéria, nosso insopitável Dante Mendonça.

Próximo domingo, certos de nossa antivitória já no primeiro turno, aqui tudo são loas e agradecimentos, a você, que além de eleitor também é leitor. E que, ao longo de nossa sonhadora campanha, sempre esteve aí, não só disposto ao voto, como paciente o bastante para nos aturar as tintas da galhofa e da melancolia.

Ninguém melhor que você, portanto, para acolher essa nossa despedida, triunfantes anti-candidatos de uma campanha desde já marcada pela antivitória o que não é, claro, uma confissão de derrota.

Antes vitória mesmo, senhores, a mais altissonante, posto embalada pelo grau mínimo da utopia que é o sonho e sonhar deveria ser a matéria de todo eleitor que se preze.

Falou nosso presidente, em crônica recente, no direito exclusivo que temos, os curitibanos, das quatro estações do ano num mesmo dia. Pois advogo o retorno urgente de que elas ocorram, sim, mas de agora em diante, numa só tarde.

Melhor assim: a gente deixa tudo no carro – da sunga para o mergulho nas cavas ao sobretudo para as súbitas nevascas nos locais mais altos da cidade. Um blazerzinho meia-estação para eventuais primaveras e um cachecol para os ventos, sempre gelados, do outono. Tudo isso, repito, numa só tarde!

Que negócio é esse, Sérgio da Costa Ramos, de Floripa nos usurpar tão singular ambiência metereológica? Não, não e não! Isso é coisa nossa, e não abrimos. Seria o mesmo que os catarinenses quisessem trocar Jurerê por Matinhos. Não é justo, Matinhos é mais linda e suas águas mais azuis que a do mar catarina. Né mesmo, Vinicius Alves?

Outra: nosso presidente ficou tão transtornado com nos tirarem as quatro estações diárias que, enfurnado em seu estúdio da Augusto Stellfeld, se atrapalhou. Este escriba já foi editor de tudo, menos da revista Quatro Estações!

Mas não tem a menor importância. Tudo para um anticandidato, já vitorioso, é o amor à cidade que o abriga desde quando aqui chegou, aos 7 anos, vindo do sertão profundo. Jaguapitã é apenas um retrato na parede, mas o retrato que dói mais é o do Passeio Público, a foto mambembe: eu, meu irmão, meu pai, minha mãe. A Curitiba, e a família, que o vento levou…

E se alguém perguntar, ao me ver todo fatiotado para a posse, “Sois prefeito?”, responderei de pronto: “Não, agora eu sois rei!”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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