Sou do tempo em que os principais jornais brasileiros tinham até editoria sindical, para cobrir, minimamente, a vida, reivindicações, pensamentos dos trabalhadores e dos servidores públicos. Óbvio que isso não impedia que a linha editorial fosse mais a favor dos patrões, né, afinal de contas o jogo é jogado e o lambari é pescado, assim é a linha na grande imprensa, quem viveu no chão dessa fábrica de salsichas desde muito cedo sabe disso muito mais que esse cronista matuto a suar tintas de manchetes populares.
Sou do tempo presente. E só leio, agorinha mesmo, a mídia tradicional brasileira preocupada com o patronato. Quando tem trabalhador como personagem é o bicho homem já lascado de tudo feito maxixe em cruz, além muito além do lúmpen do lúmpen do proletariado. Tal e qual o homem-gabiru comendo lixo do poema de Manuel Bandeira. Seria um homem ou um bicho?
O mercado está nervoso. Nossa madre. Vixe. Vamos gastar o suor final e salvar essa santa entidade. Fizeram uma reforma trabalhista durante meses e eu não vi – desafio a quem enxerga melhor que meus 8 graus de miopia + astigmatismo – um só líder trabalhista ou operário avulso com direito a opinião nos telejornais das tevês abertas brasileiras. Resultado: lascaram os pobres. De verde e amarelo. Fumo de Arapiraca nos trabalhadores, para usar uma civilizada metáfora nordestina das antigas.