Segundo Rubem Alves, o meu filósofo favorito, “a vida é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim”.
Não sei se Ricardo Silva, querido irmão do nosso mestre Zé Beto e que nos deixou esta semana, conseguiu levar a sua sonata até o fim. Talvez não. Mas lutou bravamente, como destemido alagoano, até o derradeiro momento. Acometido de insidiosa moléstia, enfrentou-a com valentia. Acreditava que seria capaz de vencê-la. E quase conseguiu. Era um forte. Artista de grande sensibilidade, amava a beleza e dela fazia a sua arte e tirava a sua força. Quando não foi mais possível resistir, seguiu em paz. Sabia, como Rubem Alves, que “o terrível não é morrer; é deixar de viver”. Mas sabia também que deixaria, além de saudade, uma vida bem vivida, com dignidade e amor. Ao que eu saiba, não deixou filhos, não escreveu livros, mas plantou muitas árvores e flores e cuidou com carinho e alegria do quintal de dona Zefa, exibindo-o ao Brasil através de seus primorosos flashes.
Restou o mano Roberto José da Silva, o nosso Zé Beto, que em boa hora Curitiba acolheu e afaga como filho. Sua dor é uma dor doída, embora ele soubesse que Ricardo poderia embarcar a qualquer momento. Essa dor bruta que ele agora sente, sem forma e sem cores, como uma pedra assentada sobre o peito, há de amenizar. E a enorme tristeza transformar-se-á em saudade.
Zé Beto é outro forte. Um sobrevivente, que enfrentou com coragem e brava resistência terríveis inimigos. E suplantou a todos. Sua sinfonia ainda está longe de terminar. E isso o impulsiona a seguir em frente. Vamos juntos.