Para compreender nossas cidades

Quando estreei esta coluna, em setembro de 2013, o Brasil vivia uma espécie de perplexidade diante da onda de protestos que tomou conta do país a partir de junho daquele ano.

Como afirmei à época, as chamadas jornadas de junho —cujo pontapé foram as manifestações contra o aumento das passagens do transporte público— reposicionaram o tema das cidades na agenda do país. E foi isso, especialmente, o que me animou a ocupar este espaço na Folha, procurando contribuir com esse debate.

Nesses pouco mais de dois anos, procurei abordar temas relacionados com a questão urbana, trazendo ângulos que considerava ausentes ou silenciados na abordagem que os grandes meios de comunicação fazem dos conflitos que marcam a luta cotidiana pela apropriação de nossas cidades. Procurei também debater, em uma linguagem menos técnica, temas que, em função de sua complexidade, se tornam opacos para o público e restritos aos estreitos círculos de “especialistas”.

Foi assim que procurei acompanhar pautas como a revisão do Plano Diretor de São Paulo, a crise habitacional, a mobilidade urbana, os espaços públicos, o planejamento e a gestão urbana, a participação dos cidadãos na definição das políticas, entre outras.

Como paulistana, e escrevendo em um jornal da cidade, centrei a atenção principalmente nas dinâmicas de São Paulo, mas, por vezes, também tive a oportunidade de comentar temas nacionais, como a recente tragédia em Mariana (MG), as mobilizações do movimento Ocupe Estelita, do Recife, a aprovação da PEC que incluiu o transporte no rol dos direitos sociais constitucionais básicos, ou os perigos do regime direto de contratações de obras públicas.

Aproveitando as oportunidades que tive durante este período, de andar por cidades do mundo, participando de seminários e eventos profissionais e acadêmicos, busquei também trazer experiências internacionais, relacionando-as com debates em curso em São Paulo e no país.

Assim, a lógica do adensamento das cidades em Tóquio, as experiências internacionais de mobilidade urbana, as transformações urbanísticas em torno do High Line Park, em Nova York, por exemplo, serviram como elementos para pensar, com outros olhares, temas que desafiam também as cidades brasileiras.

Hoje, me despeço deste espaço no jornal impresso para permitir o rodízio de colunistas praticado pela Folha. Agradeço aos leitores que acompanharam a coluna até aqui, que comentaram os textos e enviaram críticas e sugestões.

Agora, podemos continuar esse diálogo no site da Folha, onde continuarei escrevendo quinzenalmente, às segundas-feiras.

Tenho certeza de que a conjuntura que vivemos hoje, de profundo questionamento de nosso sistema político, especialmente na sua relação com os interesses dos grandes grupos empresariais e financeiros do país, pode ter enorme impacto no destino de nossas cidades.

A conexão urbana de operações como a Lava Jato ainda irá emergir. E seus efeitos, como repeti várias vezes neste espaço, vão muito além da corrupção. Por isso, mais do que nunca, temos que aprofundar a compreensão crítica dos modos de fazer a cidade brasileira.

raquel-rolnikRaquel Rolnik – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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