A astróloga que perdeu a coluna

barbara

© Myskiciewicz

Na onda de demissões da imprensa brasileira, tivemos na última segunda-feira a demissão de Barbara Abramo, da Folha de S. Paulo. E quem é Barbara Abramo? Ora, ela foi astróloga da Folha por 16 anos. Sim, senhores e senhoras, os jornais brasileiros publicam horóscopo até hoje, mas é verdade que publicam coisas bem mais inacreditáveis, como os resumos das novelas de TV ou as colunas sociais. Ah, mas alguém logo vai dizer que tem muita gente que acredita em horóscopo. E não sou eu quem vai contradizer uma afirmação dessas, mas devo avisar que os que acreditam em horóscopo certamente não deveriam desperdiçar sua crença lendo horóscopo em jornal.

Não sei como a astróloga da Folha fazia a coluna dela, que, aliás, nas vezes em que dei uma sapeada me pareceu ter literatices demais, que é coisa bem comum em astrólogos moderninhos — no entanto, pode ser que eu tenha esta opinião por ser de aquário. Mas o que sei é que ninguém deveria levar a sério os horóscopos que saem na imprensa. Pelo que vi em várias redações, a publicação de horóscopo pelos jornais é um hábito difícil de eliminar, assim como também vai-se levando a coisa sem respeito algum pelo assunto. No longo tempo que trabalhei na imprensa vi várias vezes o editor pegando qualquer horóscopo na gaveta de sua escrivaninha, entre dezenas que ficavam prontos para publicação. Era comum também que o próprio diagramador escolhesse o que ia ser publicado na edição.

Mas que ninguém se desespere, pois a Folha não vai acabar com a coluna que cuida dos signos de seus leitores. Barbara Abramo saiu e entrou outra pessoa em seu lugar. O jornal não explicou o motivo da demissão, mas hoje em dia não é preciso ter bola de cristal para adiantar que deve estar ocorrendo o que é previsível num enxugamento de custo, que é a troca de alguém que ganha um pouco melhor por outro que aceita fazer por menos. A astróloga também não deu sinais de ter previsto o bilhete azul, o que é até uma pena. Poderíamos ter tido uma coluna sensacional há uma ou duas semanas atrás, com ela falando da própria demissão no futuro. Mas não foi dessa vez que este milagre aconteceu.

E como a internet hoje em dia permite que a gente possa ampliar com rapidez o conhecimento sobre os assuntos que caem na nossa frente, fui xeretar a vida da astróloga demitida e deu logo para ver que seu passado não era muito promissor. Numa entrevista ao site “Portal Imprensa”, em agosto de 2014, Barbara dizia que “o Brasil viverá um momento bom até 2018”. Aqui do futuro, podemos sentir a barbeiragem feia da astróloga. E o mais chato pra ela é que na época da previsão errada, os dados políticos e econômicos diziam o contrário. Até o Aécio Neves já estava avisando que a coisa não iria ficar boa no Brasil. Eu mesmo, sem nenhum mapa astral à mão, escrevia que o futuro iria bagunçar a vida de todo brasileiro.

E falando no Aécio, Barbara dizia nessa mesma entrevista que o mapa astral dele estava “bem detonado” e que o de Dilma Rousseff “também não está bom, mas ela tem uma grande porcentagem e grande aceitação”. Os astros não avisaram que Dilma iria pedalar. Mas o pior de tudo foi o que a astróloga demitida disse sobre outro político, o pernambucano Eduardo Campos. Não sou especialista no ramo, mas o mapa dele devia estar de ponta-cabeça. “O Eduardo Campos tem um mapa interessante. Ele vai ter uma expressividade maior”, ela disse. O presidenciável, como todo mundo sabe, morreu numa queda de avião antes da eleição. Pois então, é como eu disse: a demissão da astróloga da Folha deve ter pegado ela de surpresa.

José Pires|Brasil Limpeza

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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