O Bandido Que Sabia Latim

© Carlos Macaxeira

Posso provar: tenho aprovação própria. Pensar por pensar. Some um círio suando de pensar, aceso na cabeça e as formigas me comendo e me levando em partículas para suas monarquias soterradas. A existência existe no existente. A presença presente no presenciar, a circunstância no circunstancial, a totalidade totalmente no total. Contacto coeso: compactas coisas.

No grande livro do mundo, páginas enigmáticas incólumes ao siso e à fala. Este capítulo não deslindo nem decifro: erro? Sofro, e este livro sem textos — só ilustração iluminura. Não traduzo nem leio: giro e jazo. Um círculo de giz em volta de meu juízo, uma nuvem, uma caligem, um bafo me embacia o entendimento para que Brasilia… Ergo. Lentes e dentes de vidro. Fedor de antas e araras, pela inhaca se conhece a peste que grassa. Uma fera urra dando a luz. A onda está parindo Artischewsky? Este pensamento sem bússola é meu tormento. Quando verei meu pensar e meu entender voltarem das cinzas deste fio de ervas? Ocaso do sol do meu pensar. Novamente: a maré de desvairados pensamentos me sobe vômito ao pomo adâmico. Estes não. E esta terra: é um descuido, um acerca, um engano de natura, um desvario, um desvio que só vendo. Doença do mundo!

E a doença doendo, eu aqui com lentes, esperando e aspirando. Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros? AUMENTO o telescópio: na subida, lá vem Artyscheesky. E como! Sãojoãobatavista! Vem bêbado, Artyschewsky bêbado… Bêbado como polaco que é. Bêbado, quem me comprenderá?

 Última página do Catatau, 1975, Grafipar – Gráfica e Editora

Catatau na Argentina: traducción y postfacio de Reynaldo Jiménez, Descierto 2014.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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