100.000

Cem mil brasileiros na pior estatística
Cem mil cpfs excluídos, ex-contribuintes
Cem mil extintos em meio às suásticas
Cem mil remediados, pobres, pedintes

Cem mil cristãos, crentes e gente sem fé
Cem mil desesperançados e esperançosos
Cem mil queriam ir pra frente, deram ré
Cem mil famintos, esfomeados e gulosos

Cem mil cônjuges, estáveis, solitários
Cem mil empregados e desempregados
Cem mil num inimaginável obituário
Cem mil entubados e daí desentubados

Cem mil dependentes do bendito SUS
Cem mil atendidos por gente incansável
Cem mil em meio a sufoco, credo em cruz
Cem mil e fraude dos respiradores, odiável

Cem mil que se foram sem voltar pra casa
Cem mil enterros sem direito a velório
Cem mil biografias interrompidas, sem ar
Cem mil famílias nesse imenso sanatório

Cem mil caixões, imenso desmatamento
Cem mil clientes, insuficientes funerárias
Cem mil necrópsias pós-isolamento
Cem mil eleitores, agora almas apartidárias

Cem mil num país sem ministro da saúde
Cem mil, recorde de descaso e desamparo
Cem mil vítimas do ministério do ataúde
Cem mil! E zero compaixão do Bozonaro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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