O “imbróglio” começou quando o presidente do Círculo Italiano de Brusque (SC), Márcio Fumagalli, começou seu discurso numa solenidade restrita à colônia com uma proposição que embrulhou o estômago dos presentes: a brava gente de Garibaldi não pode reduzir a grande riqueza histórica, cultural, política e social da presença italiana no Brasil às festas à base de frango com polenta e danças folclóricas. (E de certos vinhos, acrescentaria o especialista Luiz Carlos Zanoni).
O debate ganhou corpo através da revista “Insieme”, o principal meio de comunicação da colônia italiana no Brasil, editada em Curitiba pelo jornalista Desiderio Peron. Em sua última edição, “Insieme” ferveu a água da caçarola ao dedicar a capa e mais cinco páginas à heresia.
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O empresário Antônio Alberti, de Porto Alegre, levantou a enxada para defender a mesa de suas origens: “A polenta, primeiro elaborada com vários cereais, depois com o “grão sarraceno” e finalmente com o milho, salvou de fome dezenas, se não centenas de milhões de pessoas, entre os quais nossos imigrantes. Foi uma das civilizações alimentares mais importantes, na América, na Europa e parte do Leste Europeu, como foi aquela do trigo para toda a Europa, Norte da África e Mesopotâmia, e do arroz para toda a
Ásia”.“A polenta está em mim!”
deu um murro na mesa o professor universitário e frei Rovílio Costa, também gaúcho: “Então, os 126 milhões de descendentes de italianos no Brasil, desde 1875 até aqui, para se desenvolver e vencer a ignorância deveriam deixar de comer galeto e polenta? Eu comecei a ir para a escola em 1942, em Veranópolis, quatro quilômetros distante de casa, de pés no chão, depois de comer polenta frita com lingüiça, com queijo ou “quebradina’ com leite”.***
Considerando que a provocação pode ser entendida como um alerta contra a falta de criatividade das manifestações culturais da colônia italiana no Brasil, de modo geral pobres e repetitivas, a polêmica não deve acabar em pizza, pelo parecer do sociólogo Fábio Porta, nascido no Sul da Itália:
“Não criminalizemos o frango com polenta, mas perguntamo-nos porque somente este tipo de manifestação tem sucesso e porque quando se pensa na Itália vem em mente a pizza, o vinho ou a macarronada e não a nossa grande cultura literária ou artística, por exemplo. Não acho que a culpa seja de nossas associações ou das comunidades locais; talvez as instituições italianas (Consulados, institutos de cultura, Comitês) devessem empenhar- se mais neste sentido. Poder-se-ia, por exemplo, associar uma iniciativa tipo “frango com polenta’ a uma mostra de arte ou de fotografias sobre a Itália; ou lançamento de um livro ou outra coisa do gênero”.****
Os restaurantes de Santa Felicidade ainda não se manifestaram. Estão esquentando a água do caldeirão, pra comer com fubá o atrevido que tocar no assunto.
Dante Mendonça [07/02/2008] O Estado do Paraná.