Em 1978 fui trabalhar na Editora Grafipar e, envolvido em muitas atividades, convidei Marcos para ser meu assistente. Ele recebia cheques, levava e trazia desenhos e trabalhos de propaganda. Uma moleza que lhe rendia uma boa graninha no fim do mês. Nunca conversávamos sobre poesia. Falávamos de assuntos em geral, jogávamos conversa fora. Todo Natal, eu, ele e Amilton, ex-cunhado, saíamos pela vizinhança no São João, cantando: “Nóis é nóis e o resto é bosta, que se foda quem não gosta”.
Isso durou pouco tempo, porque ele começou a trocar figurinhas com o pessoal do Beijo à Força. Podia expor suas idéias, fazer versos para as músicas do grupo, estava jogando no time que queria. Encontrara o que o seu lugar. Tornou-se punk, vestindo camisas de garis da empresa de limpeza da cidade na época: Terpa Lipater.
Branco. Marcos, doente, vai passar uma temporada no Rio de Janeiro, na casa de Douglas. Tinha uma namorada por lá. Bebia.
mãe
como a senhora pode notar
tudo está limpo e arrumado
só há alguma louça para lavar
e seu quarto zoneado
mas como tudo volta ao lugar
após mudar de estado
a sra. tem o direito de limpar
porque não foi sujo e sim sujado
agora, se estiver demais bagunçado
perdoe, que perdoar limpa
e é certo que o fedor não sinta
se chamas ainda Nadyr Prado
década de 80
Mais ou menos nessa época, 1980, Thadeu Wojciechowski e Marcos juntaram uma manada de poetas e eu diagramei, montei e participei do livro Sangra: Cio, com prefácio de Leminski e tudo. Marcos estava sempre lá em casa, supervisionando e dando palpites na montagem do livro. Faz assim, coloca o poema virado, muda isso, que tal fazer de outra maneira? Bebíamos.
de frente
bebi a noite
Inteira
o poema que você me deu
álcool
em senha sabre pegando fogo
lenha
veio teu raio
branco
na cerca tosca
armada
em redor da vida
bebi a noite inteiro
o poema
que li
nos teus lábios