Mãos ao alto: seu currículo máximo ou a vida

Fazer amigos e influenciar caracóis. Continuar jovem, em forma, e saudável aos 120 anos. Atingir a plena satisfação pessoal no banheiro e conquistar a confiança do chefe. Anabolizar a conta bancária e ficar mais inteligente por fora. Acumular vitórias e sorrir para a vida. Desafiar o futuro e reforçar a personalidade. Progredir profissionalmente e ter relações amorosas sólidas e duradouras. Competir no mais difícil mercado de trabalho, derrubar os adversários e somar pontos preciosos no currículo. Desenvolver todo o potencial criativo. Obter todos os diplomas com distinção e honra ao mérito. Tornar-se um líder de sucesso. Novos paradigmas — por favor! Globalizar-se, globalizar-se! Money makes de worldly go around!

As tendências estão à solta, os referenciais emergem das catacumbas da sociedade. As técnicas de sobrevivência pululam em abundância e sob o comando de palavras mágicas como coaching, emotional intellect, counselling, mentoring, trainee, self control, brain power, personal training, head hunter, Ph.D.. O círculo de fogo está bem à sua frente. Estalam o chicote e você salta por dentro dele, com terno sob medida, sem se queimar, e recebe as palmas da plateia, da família, dos amigos. You are the champion of the wrong. Os patamares são desenhados com degraus cada vez mais altos e em perspectivas globais. O ambiente de trabalho tornou-se povoado de espectrais e carnívoras medusas tecnológicas providas de tentáculos monumentais. Os contatos são engendrados em conferências continentais simultâneas e eletronicamente comandadas por sofisticados softwares. The Wall Street Journal, abre as asas sobre nós!

Clássicos de autoajuda enfileiram-se nas estantes de aço escovado e humilham os visitantes emocionalmente despreparados. Suportando tudo isso, as academias de musculação observam em cada esquina e promovem a Gestão do Condicionamento Físico Exemplar. Mas, com um sorriso dentifrício no rosto couraçado, você vai à cozinha da empresa e serve-se de um aguado café que a diarista — que saiu de casa às cinco da manhã para não perder a hora — nunca aprendeu a passar. Que merda!

PS. Publique aqui seu currículo por sete dias, gratuitamente. Se ninguém ligar, se mate.

*Rui Werneck de Capistrano é consultor de novos paradigmas sociais

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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