O nariz é um filtro muito eficiente quando usado para remoção das partículas do ar. O ar, como sabemos, é constituído por elementos químicos que dão a ele a bela aparência transparente e fluida facilmente notada pela impossibilidade de ser vista ou tocada com a mão. Mas, sempre tem um porém, o ar serve perfeitamente de avião para bactérias e vírus em viagem de férias ou de negócios. Chamamos de ‘organismos patogênicos’ os passageiros que ficam na sala de espera da nossa boca de onde partem em gotículas de saliva (as mais ricas) e sobre ínfimas partículas de poeira (que seria a classe econômica). Uma vez alcançada a altura de cruzeiro, os passageiros se dividem em classes: as bactérias carregam na bagagem breguetes como difteria, tuberculose e infecções por pneumococos e estreptococos. Os vírus preferem a varíola, a varicela, o sarampo, a poliomielite, a gripe endêmica e o resfriado comum. Se a viagem transcorrer sem incidentes, você deve sentir o nariz escorrendo em pouco tempo se estiver na rota do avião. Quando uma pessoa tosse ou espirra, um bombardeiro manda mísseis individuais. Felizmente, grande parte cai logo ali, como bombinha de São João. E, mais felizmente ainda, o nariz, como já disse, é um poderoso filtro que absorve milhões de vírus e bactérias e manda para o estômago, onde são torturados e destruídos por ácidos. Ah, mas tem as partículas-bombas muito pequenas que podem passar para dentro do pulmão e aderir à superfície desse órgão. Dependendo da carga explosiva, pode se aprontar para ir à fila do SUS. Única maneira segura de impedir a propagação das partículas seria obrigar todas as pessoas a pararem de respirar ou a usarem constantemente máscaras filtrantes. A primeira opção se mostrou inviável em testes de laboratórios. Para a segunda, a vaidade das vaidades falaria mais alto e os políticos da oposição votariam contra. Aliás, se nem o cocô do seu/dela cachorro a madame recolhe da calçada, imagine o resto.

Meteu o nariz na seara alheia.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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