1º de Maio: FHC e Lula voltam a dividir um palanque, depois de 31 anos

A ameaça simultânea do coronavírus e do bolsovírus ao emprego, à saúde e à vida dos brasileiros operou o milagre de reunir novamente no mesmo palanque, desta vez virtual, os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, algo que não se via há 31 anos.

A última vez em que os dois dividiram o mesmo palanque foi na reta final do segundo turno de 1989, quando FHC apoiou Lula contra Fernando Collor, que foi eleito.

Era a primeira eleição direta para presidente depois da ditadura militar. Nas duas eleições seguintes, FHC se elegeu no primeiro turno disputando com Lula. Em 2003, FHC passou a faixa para Lula.

Muitos anos antes, em 1978, Lula já tinha feito campanha para FHC na eleição para o Senado.

Em 1984, os dois juntos participaram da campanha das Diretas Já, comandada pelo amigo comum Ulysses Guimarães, o grande líder da redemocratização do país, que hoje faz tanta falta.

Agora, os dirigentes das seis principais centrais sindicais brasileiras (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB) montaram um palanque virtual para as comemorações do Dia do Trabalho, em 1º de Maio, com a participação dos dois ex-presidentes, e mais o ex-ministro Ciro Gomes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, segundo reportagem de Catia Seabra publicada hoje na Folha.

Também foram convidados o governador do Maranhão, Flávio Dino, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o presidente do STF, José Dias Toffoli.

Ainda deverão falar aos trabalhadores a ex-presidente Dilma Rousseff e os governadores do Rio, Wilson Witzel, e de São Paulo, João Doria, em vídeos que irão ao ar na live do palanque eletrônico no Dia do Trabalho.

A lista de oradores foi ampliada após a participação do presidente Jair Bolsonaro na manifestação golpista do último domingo, em que foi pedida a intervenção militar e a volta do AI-5.

“Está cada vez mais claro que Bolsonaro não tem apreço pela democracia e trabalha o tempo todo para instituir um regime autoritário no país”, justificou Sergio Nobre, presidente da CUT.

Este ano, o lema do ato das centrais sindicais é “saúde, emprego, renda e democracia: um novo mundo é possível com solidariedade”.

Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, “a tese do bloco de esquerda se dilui quando a batalha é a defesa da democracia”, o que permitiu a ampliação do palanque. “Tudo que não conseguimos fazer no mundo real podemos fazer agora no mundo virtual”.

Na abertura da transmissão, representantes da OAB, da ABI e da CNBB farão breves depoimentos, entremeados por shows de artistas convidados.

Reunir na mesma manifestação, ainda que virtual, Lula, FHC e Ciro, além de todas as centrais sindicais, num ato unificado, tem um caráter simbólico neste momento em que Bolsonaro está cada vez mais acuado e isolado no Palácio do Planalto, com 24 pedidos de impeachment nas mãos de Rodrigo Maia e várias ações no STF para investigar a atuação do presidente no combate à pandemia.

É a resposta da sociedade civil à escalada autoritária do governo, com a precarização do emprego e a incapacidade de gestão do presidente no enfrentamento da crise, segundo o presidente da UGT, Ricardo Patah. “Mas não é o suficiente para ganhar as ruas”.

O comício golpista do último domingo, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, pode ter sido a gota d´água para unir novamente as forças políticas e sindicais que se mobilizaram pela redemocratização do país nos estertores da ditadura militar, nos anos 1980.

Quatro décadas depois, com a democracia novamente ameaçada, em meio à pandemia do coronavírus, esse 1º de Maio deverá ficar marcado como um divisor de águas. Vida que segue.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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