TEOREMAO fuinha deixou o cabelo crescer para se parecer com John Lennon. Usava óculos de aro redondo. Mas era e tinha cara de árabe – e ajudava o pai numa loja de sapatos. Naquela turma, era rico, mas estudava num colégio público. Pão duro! Andava num carrão antigo que fazia sucesso entre as meninas. Um dia saiu com a mais linda de todas – e o vizinho de classe que a olhava e tinha medo de falar, apesar de ser correspondido, passou mais uma noite sem dormir e sofrendo. Até o dia em que uma professora falou a todos daquela classe de subúrbio de cidade grande sobre a necessidade da arte como porta para abrir os caminhos do conhecimento. Falou,  em resumo, sobre o que valia a pena, ou seja, a própria vida sem as amarras, sem as viseiras, sem o engessamento, sem o embotamento – aquilo tudo que existia desde o primeiro dia de vida. Partiu então para a aventura num cinema de arte na praça do Centro, distante uma hora e meia no ônibus sacolejante. O que viu, até hoje não esquece. Não entendeu, mas sentiu. A pancada foi tão grande que cinquenta anos depois ainda aprende com Pier Paolo Pasolini e admira a longevidade de Terence Stamp. O Teorema, não decifrou, porque as relações humanas são assim mesmo – e é isso o que o faz achar a existência tão emocionante. Do blog Cabeça de Pedra|Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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