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Não sobra tempo nem espaço no final do ano. Não pude falar sobre os meus escolhidos. Entre os meus destaques: As ótimas músicas dos subúrbios do Arcade Fire. Sprawl II (Mountains Beyond Mountains) é uma pérola. O disco ainda não é a obra-prima divulgada pela imprensa britânica mas é, sem dúvida, um dos melhores do ano. O mais recente vídeo, dirigido por Spike Jonze, lembra 1979 do Smashing Pumpkins. Anaïs Mitchell criou uma obra baseada em Orfeu e Eurídice numa época distópica e de nova depressão. Depois, saiu excursionando com o clássico Bread And Puppet, numa espécie de Ópera-Folk. O incrível é que Justin Vernon do Bon Iver é Orfeu! Gil Scott-Heron voltou com I`m New Here, um disco intenso e consistente, depois de uma ausência de 16 anos batalhando contra seu vício em crack.
O novo disco tem até sampler de Kanye West. James Blake promete, com uma série de EPs brilhantes. Sua versão de Limit To Your Love da bela Feist é linda. Janelle Monáe acertou na sua pretensiosa obra conceitual sobre Metropolis, The ArchAndroid. Num ano cheio de personagens, Janelle conta a história de uma andróide messiânica enviada para nos salvar, habitantes de Metropolis, decadentes, sem amor e liberdade. Sua estréia foi comparada ao Ziggy Stardust de Bowie e principalmente ao, absolutamente genial, Sign O` The Times de Prince. Se isso não fizer nenhum sentido, aparecer citada na mesma linha já é muito e Tightrope, com o fantástico Big Boi (que aliás lançou o ótimo Sir Lucious Left Foot: The Son of Chico Dusty) é o melhor vídeo do ano, na minha opinião e na de muitos.
Outro disco conceitual é My Beautiful Dark Twisted Fantasy, do polêmico Kanye West que é, realmente, muito sensível. Runaway é uma bela música. O disco foi composto durante um exílio voluntário no Havaí (depois de tanto stress e controvérsias). A obra é repleta de participações: Jay-Z, M.I.A, Elton John, Justin Vernon!, Beyoncé, Mos Def, Santigold, Alicia Keys, usados como testemunhas das boas intenções de Kanye. É um depoimento perturbado de um artista muito talentoso, e consciente, no auge da fama. Só mais um detalhe, Kanye West devolve a gentileza com samplers clássicos de Gil Scott-Heron.
A imprensa inglesa amou Hidden do These New Puritans que é bastante original e foi mostrado integralmente em performances no Barbican, Pompidou e na Berghain em Berlim. Ligado no que acontece na moda da música popular, o fotógrafo e ex-designer da Dior Hedi Slimane já colou no bando, como fez com o The Libertines no começo da década e organizou um evento no Palais de Tokyo, em Paris, para seus novos faunos. Eu, amei o deprimido Queen of Denmark de John Grant (ex Czars). O disco é uma colaboração com a banda Midlake e recebeu o selo de clássico instantâneo da revista Mojo. Mais melancólico e suicida impossível. Nesta área dark, Steve Mason é uma espécie de Ian Curtis e era a cabeça do Beta Band, então você pode imaginar sobre seu disco solo, belíssimo, Boys Outside. O novo The Radio Dept. é ótimo e traz a voz do guru Thurston Moore (Sonic Youth) dizendo: “Acho que devemos destruir o processo de falsos capitalistas que tentam destruir a cultura dos jovens.” Owen Pallett em carreira solo é melhor e Heartland traz mais personagens, estes vivendo em um mundo chamado Spectrum.
James Murphy gravou o novo LCD Soundsystem na famosa Mansion do mago produtor Rick Rubin. A propriedade pertenceu ao mágico húngaro Houdini nos idos de 1919 e leva a má fama de assombrada. Acontece que os relatos são, quase sempre, de notórios junkies viciados em heroína, que andaram gravando no estúdio sob a batuta do produtor, como o pessoal do Red Hot Chilli Peppers, então nada foi provado. Tracey Thorn (ela mesmo) fez um disco belo e forte, Love and It`s Opposite. Acreditem, Foals também, Total Live Forever. O talento de Sufjan Stevens é sem fim e The Age Of Adz, mesmo realizado em um período conturbado de saúde, é grande. Erland And The Carnival é mais uma descoberta e paixão do mestre Paul Weller, que já nos apresentou o The Coral há uma década. Sigh No More do Mumford & Sons tem como padrinho, só, Rick Davies do The Kinks. Eles eram a banda de abertura dos shows de Laura Marling (que também lançou um ótimo disco) na King`s College School, em Wimbledon. Agora, os literatos garotos são, para muitos, A banda. O genial clássico Edwyn Collins lançou Losing Sleep.
Viveu, nos últimos anos, um período de recuperação neurológica depois de sofrer uma hemorragia cerebral. Esse ano, Edwyn lançou mais uma obra-prima, como nos tempos de Orange Juice, com a luxuosa participação de Johnny Marr, Alex Kapranos (fã desde menino) e do The Drums, na linda In Your Eyes. Um outro preferido é Cherry Ghost, Beneath This Burning Shoreline, um dos melhores do ano. Para outros, um dos melhores é o vintage Ariel Pink`s Haunted Graffiti, Before Today. Vale a pena ainda lembrar os ótimos Local Natives e seu Gorilla Manor e, sempre, o último The National, High Violet. Becoming a Jackal dos irlandeses do Villagers mereceu sua indicação ao Mercury Prize. A primeira, música de câmara de Joyce, I Saw The Dead, é uma das melhores que ouvi. John McCauley é o louco por trás do Deer Tick e criou o lindo The Black Dirt Sessions. Para acabar, a paquistanesa Rumer lembra sim Judee Sill e Karen Carpenter, só que sem tragédias, e é demais. É isso. Feliz ano novo, amigos, um desses cheio de música, saúde e amor.
Felipe Hirsch (O Globo)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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