O Púcaro Búlgaro é um romance surrealista, e ultimo livro de Campos de Carvalho, lançado em 1964. A trama contempla a saga de um homem que resolve organizar uma expedição para verificar se a Bulgária de fato existe.
Em 2008 antes de viajar a Bulgária para uma exposição durante o “Festival de Cultura Brasileira”, organizado pela embaixada do Brasil naquele país, Rogério Dias comentou com o Embaixador Paulo Wolowski a respeitodo romance nonsense de Campos de Carvalho. O embaixador Wolowski, entusiasmado por conhecer a história, solicitou que Rogério não deixasse de levar um exemplar do livro na viagem.
Como a primeira e única edição de 1964 estava esgotada, Rogério começou uma peregrinação por sebos, onde o livro só era encontrado a preço de obra rara. Não podendo levar o livro prometido, Rogério resolveu pintar uma tela com um vaso, a qual deu o nome de “Púcaro Búlgaro”, para levá-la para a exposição.
Durante a exposição, realizada no Museu Arqueológico de Varna, a história de como surgiu o quadro foi contada e passada de boca em boca, despertando uma grande curiosidade dos búlgaros, tanto que em 2009 a Embaixada do Brasil na Bulgária junto com o departamento de línguas latinas da Universidade de Sófia resolveram lançar uma edição bilíngue do livro, usando na capa a imagem da tela pintada por Rogério.
Dois fatos curiosos desta história
O primeiro: Rogério só pintou a tela porque não encontrou o livro, no entanto um dia antes de seu embarque para a Bulgária, a Editora José Olimpio lança a 2ª edição do livro (sem que ele ficasse sabendo)
O segundo: a Embaixada procurou, mas não conseguiu um espaço adequado para a exposição que foi realizada no período de alta temporada na cidade litorânea de Varna, e as galerias locais já estavam com exposições marcadas, por esse motivo a exposição teve que ser realizada no Museu Arqueológico da cidade, justamente um local que conta com o maior acervo de púcaros do país, alguns com mais de dois mil anos.
A julgar pelo prefácio que o escritor búlgaro Rúmen Stoyanov fez ao livro, creio que o mesmo pode não ter agradado muito aos leitores daquele país. Ele diz: … “O Púcaro Búlgaro é obra prima naquela prosa latino americana, mas pode provocar certo desconforto aos leitores búlgaros privados de senso de humor: como alguém vai gastar gozações com a Bulgária, questionando se ela existe; como vai desencadear sua engenhosidade a expensas nossas? E se argumentamos a mesma coisa com signo contrário, ou seja, o Brasil e se os brasileiros não existem, vão achar graça, heim? Não sei se acharão graça. Suponho que não darão bola ou soltarão gargalhadas, mas o próprio Drummond já nos ganhou dizendo por ocasião, d’O Púcaro, com toda a impiedade: “Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?”Além do mais, Campos de Carvalho duma penada eliminou o estado do Ceará, cuja área é de 146.000 quilômetros quadrados, para que vejam aqueles sambistas como dói, e nós respiremos com alívio patriótico…” (contracapa do livro editado na Bulgária)
Sobre o autor
Walter Campos de Carvalho (1916-1998), escritor mineiro radicado em São Paulo, figura tão curiosa quanto às personagens que criou. Autor de pelo menos quatro pequenas obras-primas da literatura brasileira – A lua vem da Ásia (1956), Vaca de nariz sutil (1961), A chuva imóvel (1963) e O púcaro búlgaro (1964).