Dois óbitos que me abalaram

No último dia 15 de fevereiro, faleceu em Los Angeles, Rachel Welch, o primeiro amor da minha vida. Descobri o cinema aos 13-14 anos em Porto Alegre. Nas quintas-feiras, dia em que os cinemas mudavam a programação, chegava da escola e esperava meu pai vir almoçar. Eu queria, confesso, a Zero Hora, e ia direto para a página da programação dos cinemas, que era repleta de anúncios dos lançamentos do dia. Todos cinemas de rua, já que não havia shoppings. Escolhido o filme, pegava o ônibus, descia na esquina da Borges de Medeiros com a Rua da Praia e, invariavelmente, ia ao Guarani ou ao Imperial, os mais chiques da oficialmente Rua dos Andradas.

Apesar de menor de idade, havia descoberto um truque infalível. A “inteira” custava cinco cruzeiros e eu dava uma nota de dez para a bilheteira (eram sempre mulheres) e dizia: “Uma inteira e pode ficar com o troco”. Com o porteiro, trajado sempre de terno e gravata, havia outro golpe: entregava o ingresso e junto uma nota de cinco. Nunca me pediram documentos que comprovassem que eu tinha mais de 18 anos.

Mas voltemos à Rachel. A primeira vez que a vi na tela, confesso não lembrar o nome do filme, foi amor a primeira vista. Rosto perfeito, corpo magnífico, seios admiráveis e as coxas. Ah, as coxas de Rachel eram inigualáveis, nunca mais vi tão perfeitas como as dela! Rachel Welch começou a sair em todas as revistas do mundo por causa de sua beleza inigualável. Meu pai também comprava toda a semana a revista Manchete. Quando saiam fotos de Rachel, eu ia ao banheiro para os devidos fins. Rachel, fique sabendo que te amei com todas as minhas forças de menino.

Por uma dessas coincidências da vida, acabei casando com uma Raquel, que no próximo dia 31 de março fará um ano que a leucemia levou. Mas a minha Raquel deixou o meu maior tesouro: o Bruno Silveira Motta. Raquel, fique sabendo que te amei com todas as minhas forças de homem.

Outro óbito triste foi o do Paulo Vecchio, ocorrido no último dia 17. Sobre o Paulo, segue abaixo texto que saiu publicado no blog do Solda, no dia 3 de julho de 2022:

“Prezadíssimos Solda e Célio, extremamente feliz em ser aceito na Academia (Paranaense de Letraset) e ler o texto do Célio e ver a arte do Solda. Estou muito orgulhoso mesmo e com o coração alentado.

“Não sei como escrever mais do que ‘muito obrigado’, pois nessas horas faltam palavras. Somente uma correção, que o Célio não tem culpa, eis que nas milhares de conversas que tivemos nestes quase 30 anos de amizade, jamais contei o que narro agora.

“Não sou Paulo Roberto por causa do Falcão. Ele surgiu no profissional do Inter em 1972 e eu sou de 1959.

“Na verdade, minha mãe e meu pai engravidaram em 1958 e dois meses antes do bebê nascer, minha mãe teve uma queda na escada do prédio (morávamos no 2º andar) e, infelizmente, abortou.

“Quando engravidou depois, a vizinha do 3º andar, chamada Célia Vecchio, passou a cuidar diariamente da minha mãe, ficava mais na casa dos meus pais do que na dela. Um mês antes do parto, mudou-se para a casa dos meus pais, expulsou o meu pai do quarto, e dormia ao lado da cama da minha mãe, numa cadeira. Não deixava ela levantar para nada. Fez tudo isso por amor e amizade.

“Minha mãe e meu pai então resolveram que eu teria o nome do filho da dona Célia, que se chamava Paulo Roberto Vecchio, que era dos juniores do Internacional e depois, nos profissionais, jogou no Inter, Londrina, Ferroviário e Coritiba, sendo campeão e artilheiro pelo Ferroviário e pelo Coritiba

“Quando vim morar em Curitiba, meu pai descobriu o Paulo Vecchio, e eu o conheci pessoalmente. Ele trabalhava meio expediente na Rede (herança dos tempos do Ferroviário) e meio expediente no Bamerindus.

“Descobri que era um grande sujeito e conservei a amizade com ele. Hoje, deve ter uns 80 anos e volta e meia alguém escreve sobre o gol que marcou no último minuto no Atlético na conquista do paranaense de 1968. Forte e fraterno abraço a ambos. Contem comigo, amizade eterna.”

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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