Lagunas altiplânicas/San Pedro de Atacama, Chile (2015).
Na superfície da Terra existe a paisagem lunar. Planeta entre outros planetas esculpe desenhos ancestrais nas areias. Nunca antes visto, nunca antes pensado, apenas um sopro, assim como um sonho dentro de outro sonho.
Na imensidão da luz a altura do silêncio. Tão intenso quanto o sol em minha pele, quanto a minha retina ofuscada pela cor. Ouço o som original da vida, o vento que corta todos os sentidos do corpo. Abro os olhos para conferir se é miragem ou realidade. São os dois. Universo paralelo.
Estou na linha do Trópico de Capricórnio – Latitude 23° 26’ 16”- que atravessa três continentes, onze países e os três grandes oceanos. 45 graus de dia. 10 graus à noite. Passo pelo ponto exato do campo magnético. Deslizo pela linha reta que parece íngreme, inverto meu olhar para outra perspectiva. Horizontes planos em terra de gigantes.
Laranjas, vermelhos, azuis, verdes e brancos. Todas as cores inventadas pela imagem original do mundo. Quando cai o dia a noite entra avassaladora pela esquina. Sobe a lua gigante e amarela junto ao céu de estrelas. Toco-as. São o cálcio dos meus ossos.
Brancos, espaços, luz. Tempo, memória, origem, instante. Todos os nomes que vieram depois, todas as explicações do indescritível, todas as tentativas de saber o que já se sabe.
Pensamento, respiro, presente. Levo-os comigo sob a pele, mergulho na imensidão voraz das esferas, percorro todos os centímetros das constelações, consigo carregar este sonho, já o havia sonhado. Dias escaldantes, noites galáxias, poeira cósmica do universo. A firmeza do presente. A certeza das paisagens. O possível transformado em pedra. Para sempre o deserto em meus olhos, o mundo está em mim.