© Myskiciewicz
Esta noite tive um sonho, o dia da posse de Rafael Greca. Ele descia a André de Barros em direção ao Centro Cívico. Na altura da Doutor Muricy, no sonho interrompida por trilhos ferroviários, ele desce do carro para ir a pé, em pedestre comunhão com o povo. Havia pouco, quase nenhum povo, coisa improvável naquele dia comum de trabalho.
O carro, desses jipões de guerra do exército norte-americano detonados no Iraque. Rafael vem ao povo, desmangolado, aos andrajos: camisão branco aberto no peito, botões em falta; calças velhas, barras enroladas, estilo salta banhado, como cinto as duas gravatas, unidas para abarcar a circunferência; nos pés de querubim obeso, chinelos raider.
Mal caminha dez passos, nada de comunhão com o povo, como pretendia. Apenas um cachorro de rua, vadio e pulguento, imenso como Rafael, salta sobre o prefeito ainda não empossado. Rafael brinca com o animal, tomado pelo espírito de São Francisco e pelo exemplo do papa, também franciscano, os três adoradores de mendigos, fedidos ou não.
O cachorro, incrível, mais forte, derruba Rafael e monta sobre o prefeito, imobilizado de bruços. Acordo empapado de suores cívico e hírcico (as artérias do sovaco vêm de hircum, bode em latim; daí o bodum, cheiro forte de sovaco). Qualquer psicólogo de RH, só pelo cheiro, decifra meu sonho. Não se preocupem. Um dia sonhei com Dilma Rousseff. E suei pra dedéu. Rogério Distéfano