Deu bode no sonho

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© Myskiciewicz

Esta noite tive um sonho, o dia da posse de Rafael Greca. Ele descia a André de Barros em direção ao Centro Cívico. Na altura da Doutor Muricy, no sonho interrompida por trilhos ferroviários, ele desce do carro para ir a pé, em pedestre comunhão com o povo. Havia pouco, quase nenhum povo, coisa improvável naquele dia comum de trabalho.

O carro, desses jipões de guerra do exército norte-americano detonados no Iraque. Rafael vem ao povo, desmangolado, aos andrajos: camisão branco aberto no peito, botões em falta; calças velhas, barras enroladas, estilo salta banhado, como cinto as duas gravatas, unidas para abarcar a circunferência; nos pés de querubim obeso, chinelos raider.

Mal caminha dez passos, nada de comunhão com o povo, como pretendia. Apenas um cachorro de rua, vadio e pulguento, imenso como Rafael, salta sobre o prefeito ainda não empossado. Rafael brinca com o animal, tomado pelo espírito de São Francisco e pelo exemplo do papa, também franciscano, os três adoradores de mendigos, fedidos ou não.

O cachorro, incrível, mais forte, derruba Rafael e monta sobre o prefeito, imobilizado de bruços. Acordo empapado de suores cívico e hírcico (as artérias do sovaco vêm de hircum, bode em latim; daí o bodum, cheiro forte de sovaco). Qualquer psicólogo de RH, só pelo cheiro, decifra meu sonho. Não se preocupem. Um dia sonhei com Dilma Rousseff. E suei pra dedéu. Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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