A deputada tomou posse e escolheu o gabinete que foi de Lula – até 1990, quando deixou a câmara federal com nojo dos “trezentos picaretas”. São exatos 29 anos; passaram alguns deputados pelo gabinete, mas a deputada recém-eleita só sentiu os eflúvios petistas de Lula. Então chamou um pastor e um rabino para exorcizarem o ambiente. O pastor, porque a deputada é do núcleo duro do PSL, o partido de Jair Bolsonaro.
O rabino, porque a deputada “descobriu-se” judia recentemente. Mais fácil dizer que ela escondeu a condição, sugerida pelo nome e pela origem e pela aparência. Tudo bem, agora é moda ser judeu; sei de gente que vira judeu do nada, acha bonito, se homens, cortam a ponta do bingolim. Vantagem nenhuma, o editor do Insulto descobriu 0,3% de sangue judeu no teste do DNA e nunca pediu desconto no Boticário.
Depois do convênio Bolsonaro-Netanyahu os deputados do Capitão têm assento preferencial para receber o Messias, eles e os que se descobriram judeus ainda na maternidade. Que o pastor e o rabino – ortodoxo, coisa estranha, ortodoxos negam o Estado de Israel, agora aliado ao Brasil – queiram aparecer, é da natureza humana. Que a deputada queira aparecer é da natureza dela.
A deputada tinha que fazer o dever de casa: o gabinete de Lula na câmara federal está limpo; ele só sujou o gabinete da presidência – que o presidente Bolsonaro não fumigou com incenso nem purificou com reza. Se o gabinete ficou sujo depois de Lula, era só a deputada trazer sua diarista que ela dava um jeito. Mas a farolice politiqueira funcionou no baba-ovo da imprensa desocupada e da platéia beocionárica.