Rio – Quando comecei no jornalismo, no extinto “Luta Democrática”, queria ser igual ao Tarso de Castro. Todo jovem jornalista, idealista e sonhador, da minha época, queria ser igual ao Tarso.
Tarso não era só um jornalista, era um excelente repórter, um entrevistador excepcional, um cronista muito engraçado e, acima de tudo, um editor sensível e audacioso. Um ídolo.
Nascido em Porto Alegre, começou a carreira aos 11 anos no jornal do pai, “O Nacional”, de Passo Fundo. Trabalhou, também, na “Ùltima Hora” de Samuel Wainer, em Porto Alegre.
Em 1962, ainda bem jovem, Tarso veio morar no Rio de Janeiro e, em pouco tempo tornou-se um típico carioca, apaixonado pela cidade. Tarso foi decisivo no processo cultural do país nos anos 70 e 80.
Começou no Rio como repórter do “Ùltima Hora” e em pouco tempo fez amizade com Fausto Wolf, Hugo Carvana, Carlinhos de Oliveira, Jaguar, Sérgio Cabral, Roniquito, Hugo Bidet.
Na época, Tarso já se valia do seu charme para seduzir mulheres como Leila Diniz, Danuza Leão, Nara Leão, Sonia Braga, Betty Faria, Marisa Urban, Maysa, Norma Bengell, Neuza Brizola, Zezé Motta e, a mais emblemática, a atriz americana Candice Bergen.
Aqui, fez amigos e inimigos aos montes. Com os amigos, fundou jornais que se tornariam parte da história do país e da luta pela democracia e contra a ditadura militar. Entre eles, “O Pasquim”, “O Panfleto”, “JA” (jornal de amenidades),”Enfim”, “Careta”, “O Nacional” e outros.
“O Pasquim”, o mais criativo, ferino e debochado deles, surgiu na redação da “Ùltima Hora”. Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, era o maior colunista do jornal de Samuel Wainer e editor do jornal “A Carapuça”.
Com a morte dele, em 30 de setembro de 1968, Murilo Reis e Altair Ramos, donos do semanário, procuraram Tarso para substituir Sérgio Porto. Tarso não aceitou. Admirava o humorista e achava que não havia substituto para Sérgio Porto.
– Vamos mudar tudo. Vamos fazer um jornal marginal, propôs.
Tarso reuniu o cartunista Jaguar, o jornalista Sérgio Cabral, o publicitário Carlos Prósperi e o cartunista Claúdio Ceccon, o Claudius e criou “O Pasquim”, um tablóide ao estílo “Panfleto”, porém mais ousado, irreverente e com uma boa dose de humor.
“O Pasquim” revolucionou a imprensa brasileira. Criou moda, lançou tendências e revelou grandes nomes da imprensa brasileira.
“O Pasquim” não teria sido o que foi, sem Jaguar, Sérgio Cabral, Fortuna, Luiz Carlos Maciel, Henfil, Ziraldo, Millôr, e outros. Mas, não teria existido, se não fosse Tarso de Castro.
Em 1971, o “Pasquim” estava endividado, Millôr foi encarregado de sanear as finanças e para isso, Tarso, seu desafeto, foi afastado e Sérgio Cabral assumiu a direção da empresa.
Com o afastamento do “Pasquim”, Tarso se mudou para São Paulo. A convite do Octávio Frias de Oliveira, dono da “Folha de São Paulo”, começou a trabalhar no jornal paulista.
Logo se tornaria um dos mais influentes e lidos colunistas da Folha. Com o apoio do velho Frias, que o considerava um dos cinco maiores jornalistas da história do jornal, criou o caderno mais lido da história do jornalismo cultural pós-Pasquim: o “Folhetim”.
No “Folhetim”, Tarso publicou uma nova geração de talentosos cartunistas e ilustradores como Angeli, Laerte, Luiz Gê, Glauco e Jota.
O “Folhetim” continua até hoje na Folha, mas Tarso, por ciúmes, foi demitido pelo Otavinho Frias Filho, quando este assumiu a direção do jornal. Tarso era assim: despertava ciúmes até nos homens.
Era um personagem: mulherengo e irreverente, seu modo de vida elétrico, rodeado de amigos, bebidas, drogas e mulheres, fez dele um ícone do jornalismo e da sociedade carioca.
Viveu e morreu como quis.
Uma vez, Tarso disse ao amigo Luiz Carlos Maciel: “Não quero viver muitos anos. Já notei que o cara quando fica velho, a vida dele fica sem graça. Quero viver muito, intensamente, agora. Depois que fizer quarenta anos, acabou.
E Tarso se foi, aos quarenta e nove anos, como queria.