Governo Bolsonaro loteia e macula o setor com nomes de um gueto obscurantista
Assiste-se no atual momento à conjunção de pelo menos dois despropósitos na política cultural do governo Jair Bolsonaro. O primeiro é o aparelhamento ideológico dos órgãos públicos, condenado com estridência na campanha eleitoral bolsonarista como uma deformação característica das administrações petistas.
O segundo é a seleção para cargos relevantes de nomes sem qualificação para o exercício das funções —para dizer o mínimo.
Tome-se a escolha de Dante Mantovani, recém-nomeado presidente da Funarte —entidade, aliás, criada durante o ciclo militar com o objetivo de difundir e fomentar a atividade artística no país.
Em seu canal numa rede social, Mantovani coleciona declarações estapafúrdias, como o “rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo”. Em seus delírios chegou até mesmo a defender que a Terra seria plana.
A charlatanice intelectual do nomeado encontra eco nas declarações constrangedoras do novo gestor da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, dedicado devoto do ideólogo Olavo de Carvalho, o guru-mor do bolsonarismo.
Para Nogueira, por exemplo, a presença em livros didáticos de letras de canções de Caetano Veloso ou do grupo Legião Urbana ajudaria a explicar o analfabetismo que persiste na população.
Comanda o aparelhamento cultural o secretário Roberto Alvim, recentemente alçado ao posto. Em seu caso, além de tolices e grosserias conhecidas, investiga-se se buscou beneficiar pecuniariamente sua mulher quando dirigiu a Funarte —esperteza que faz lembrar o bordão pueril “acabou a mamata”, usado na campanha eleitoral.
Em tal cenário, nem chega a surpreender que o novo comando da Ancine tenha determinado a retirada dos mais de cem quadros que, havia quase duas décadas, exibiam pôsteres de filmes em sua sede.