Aparelho cultural

Governo Bolsonaro loteia e macula o setor com nomes de um gueto obscurantista

Assiste-se no atual momento à conjunção de pelo menos dois despropósitos na política cultural do governo Jair Bolsonaro. O primeiro é o aparelhamento ideológico dos órgãos públicos, condenado com estridência na campanha eleitoral bolsonarista como uma deformação característica das administrações petistas.

O segundo é a seleção para cargos relevantes de nomes sem qualificação para o exercício das funções —para dizer o mínimo.

Tome-se a escolha de Dante Mantovani, recém-nomeado presidente da Funarte —entidade, aliás, criada durante o ciclo militar com o objetivo de difundir e fomentar a atividade artística no país.

Em seu canal numa rede social, Mantovani coleciona declarações estapafúrdias, como o “rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo”. Em seus delírios chegou até mesmo a defender que a Terra seria plana.

A charlatanice intelectual do nomeado encontra eco nas declarações constrangedoras do novo gestor da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, dedicado devoto do ideólogo Olavo de Carvalho, o guru-mor do bolsonarismo.

Para Nogueira, por exemplo, a presença em livros didáticos de letras de canções de Caetano Veloso ou do grupo Legião Urbana ajudaria a explicar o analfabetismo que persiste na população.

Comanda o aparelhamento cultural o secretário Roberto Alvim, recentemente alçado ao posto. Em seu caso, além de tolices e grosserias conhecidas, investiga-se se buscou beneficiar pecuniariamente sua mulher quando dirigiu a Funarte —esperteza que faz lembrar o bordão pueril “acabou a mamata”, usado na campanha eleitoral.

Em tal cenário, nem chega a surpreender que o novo comando da Ancine tenha determinado a retirada dos mais de cem quadros que, havia quase duas décadas, exibiam pôsteres de filmes em sua sede.

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Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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