JMB

Bolsonaro. Já reparou que, não há um minuto, em que alguém deixe de mencionar o nome Bolsonaro. É Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro e Bolsonaro – 24 horas por dia. E, quando não é Jair Bolsonaro, é Carlos Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Renan Bolsonaro.

Em função disso, decidi: não vou mais escrever ou falar Bolsonaro. Porque citar Bolsonaro é promover Bolsonaro. É exatamente o que os Bolsonaro querem. Que o nome Bolsonaro seja repetido mil vezes por segundo.

Bolsonaro, para mim, deveria ser banido do vocabulário. Eu sei, seria um enorme desafio não ter Bolsonaro no meio das conversas e frases sobre Bolsonaro. Afinal, a imprensa está viciada em compartilhar qualquer coisa relacionada a Bolsonaro. Se Bolsonaro dorme, sai nas redes sociais. Se Bolsonaro urina, dá no Jornal Nacional. Se não acontece nada com Bolsonaro, Bolsonaro continua pautando Bolsonaro.

Cheguei a mandar uma carta a um grande jornal propondo que, em vez de grafarem Bolsonaro, redigissem JMB. Como fizeram com Fernando Henrique Cardoso, que virou FHC.

A publicação continuou usando Bolsonaro, é claro. Bolsonaro vende jornal, Bolsonaro traz anunciantes, Bolsonaro é a bola da vez. Até quando se pede fora, Bolsonaro, o fenômeno continua. Se fosse fora, Messias, talvez amenizasse. Mas os cristãos, não-apoiadores de Bolsonaro, rechaçariam o não-uso de Bolsonaro no slogan.
Bolsonaro fincou-se ao linguajar como uma pulga a uma virilha. Bolsonaro e também seus neologismos, como Bozonaro, Bostonaro, Bolso, bolsominion e por aí vai.

Dizem que Bolsonaro significa fascista. Na realidade, Bolsonaro é sinônimo de Bolsonaro. Ele, Bolsonaro, sabe disso e se aproveita de ser Bolsonaro. Logo estará falando de si na terceira pessoa: “o Bolsonaro defende o uso de armas, o Bolsonaro não quer vacina contra Covid 19”.

Infelizmente, a triste repetição do nome Bolsonaro não está acontecendo apenas no Brasil. Bolsonaro está na boca do mundo. Bolsonaro é o destruidor da natureza na China, Bolsonaro é o homofóbico na França, Bolsonaro é o genocida na Argentina. O que nos leva a crer que a publicidade em torno de Bolsonaro está acontecendo em progressão geométrica.

Por isso deixei de me referir a Bolsonaro. Não aceito que um crápula como Bolsonaro seja tão famoso. Por isso, se alguém vem me falando de Bolsonaro, já corto e digo: “olha, não fica matraqueando Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro que isso é ótimo sabe pra quem? Pro Bolsonaro”.

A pessoa pode até ficar chateada por eu ser tão radical quanto a não falar Bolsonaro. Pode até ser um inimigo do Bolsonaro, vai saber. Mesmo assim, ainda mais num momento de pré-impeachment de Bolsonaro, não deve-se abrir a boca para falar de Bolsonaro. Xô, Bolsonaro!

Carlos Castelo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Sem categoria e marcada com a tag . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.