A pedicura por vezes me sorri quando passo em frente do salão, aberto à rua, sempre animada enquanto remove calosidades e asperezas, as clientes, pele a amolecer na água tépida da bacia. Hoje ela chutou a bacia com cliente e tudo. Reação típica do Brasil que emergiu em 2018: a pedicura assistia na tevê à chegada de Nicolás Maduro e senhora em Brasília, a entusiástica acolhida de Lula/Janja em vestidão entre o vermelho e o laranja; os dois em abraços e beijos com os Maduros, no calor fácil e superficial dos brasileiros. A pedicura revoltada com o primeiro casal brasileiro. Para ela, os Maduros tinham mais que apodrecer na Venezuela, longe do Brasil. Pessoa simples, a pedicura vive no mundo linear e plano de seu planeta: o presidente Bolsonaro rompeu relações com a Venezuela quando esta não deu posse ao presidente paralelo.
Parecia jogo combinado,: em seguida o noticiário divulgava o segundo repúdio de Deltan Dallagnol à sua cassação, injustiça tão grande quanto a justiça na condenação de Lula. O protesto da pedicura coincidia em dia, horário e tom com mais uma bravata de Deltan Dallagnol, esvaindo-se no desespero da cassação. O incansável Dallagnol afirmava que não pensaria duas vezes em apoiar Bolsonaro contra Lula, óbvio previsível e ululante, espertice para grangear apoio na Corregedoria dos deputados, derradeira chance para reverter sua cassação. A revolta é legítima, mas advogar desse modo e em causa própria é ter um idiota como cliente. A pedicura foi autêntica, ainda que simplória e tosca na percepção das relações internacionais. Dallagnol devia mais é esfriar a cabeça na bacia da pedicura. Assim para de trocar os pés pelas mãos.