Absolveram o PM. Condenaram o pai

Eu conhecia o Paulo porque ele é amigo do meu primo, mas nunca tinha falado muito com ele. Até o dia em que ele me procurou dizendo que o filho tinha sido baleado e morto. Quem atirou, como tantas vezes acontece, foi um policial militar. Não estava fardado e estava de folga. Mas foi junto com cinco outros PMs à paisana (e de folga) resolver o caso de um carro roubado – a vítima era irmã de um deles.

O Mike, filho do Paulo, estava metido com a história. Nunca soube exatamente o grau de envolvimento dele com o furto do carro. Provavelmente era o caso de ser preso. Certamente investigado. Mas o que aconteceu foi que o PM à paisana meteu três tiros dele, dois deles na cabeça. O Mike morreu com as mãos no colo, e não como quem está atirando para reagir.

Nesta semana o TJ absolveu o PM que atirou. Sumariamente, sem nem abrir processo. Os desembargadores resolveram que não há dúvida que Mike atirou (cadê o projétil? ou cadê uma filmagem que confirme isso? ou cadê uma prova qualquer?). Já sobre a política ter ou não plantado a arma no garoto morto, bom isso os desembargadores dizem que não tem como saber. Curioso: em tese a Justiça serviria exatamente para descobrir esse tipo de coisa.

Ao Paulo restou chorar. E à gente resta dizer que esse tipo de coisa não pode ser banalizado. A PM matou mais de 400 pessoas no Paraná em 2022. E quantos policiais foram pelo menos processados?

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Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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