Quando a indústria muda o formato de um produto, o normal é reduzi-lo para você ter de comprá-lo em dobro
Desde há algum tempo, ao abrir o pacotinho do adoçante, a impressão é a de que ele está mais leve, talvez mais vazio. E a de que o café também está menos doce. Há algo errado, ou com o meu paladar ou com o adoçante. Como sei de gente com a mesma impressão, fico com a segunda hipótese. Um pacotinho pela metade nos obriga a usar dois pacotinhos, se quisermos manter o nível de açúcar no café. Donde, para o fabricante, 50% a menos em cada embalagem significarão um ganho de 100% na venda do produto.
Na 2ª Guerra, quando fomos anexados ao império Lux-Kolynos, as imagens nos anúncios induziam a um consumo muito maior do que o necessário. Para escovar os dentes, sugeria-se tanta pasta que mal cabia na escova. Idem quanto aos sabonetes: as banheiras transbordavam de espuma e, no chuveiro, o sujeito se ensaboava de tal forma que nem sua mãe o reconhecia. E, quando chegaram os xampus, fomos ensinados que o certo eram duas aplicações.
O custo de fazer a barba dobrou a cada mudança de formato das lâminas. O instrumento original, a navalha, podia durar uma vida inteira e até passar de pai para filho desde que se a amolasse de vez em quando. A gilete, que a substituiu, começou com uma honesta lâmina de dois fios, cortando dos dois lados. Um dia reduziram-na a uma lâmina de um só lado, o que a reduziu também à metade das barbas. Veio então a lâmina dupla, com o que continuamos a fazer metade das barbas, só que com o dobro de lâminas. Hoje temos o aparelho descartável, com uma lâmina quase cega válida para uma única barba —feita esta, joga-se fora o aparelho e se abre outro.
Mas é pegar ou largar, não?