ANA HICKMANN todo dia denuncia uma sujeira do marido. Beto Richa vive denunciando as sujeiras do Ministério Público. Ana precisa urgente de um ministro Toffoli na sua vida, para aplicar a ela a jurisprudência Beto Richa, que em essência significa o seguinte: os culpados são os outros, Beto nunca errou em nada, nem mesmo na ordem dos botões das camisas imaculadas, no enrolar as respectivas mangas e no cuidado de não amassá-las em sua dura faina de político. Ah, sim, os cebolões apreendidos em seu bem abastecido clôse não eram árabes nem presentes de empreiteiros agradecidos; Beto os comprou com o suor do rosto.
Beto e Ana são semideuses, que não podem levar porradas, como os falsos heróis de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos no Poema em linha reta. No caso de Ana foram o marido e os clientes que compraram os produtos das firmas dos dois; no caso de Beto foi o povo cretino, de Curitiba e do Paraná, que o elegeu deputado, prefeito uma vez e meia e outra vez e meia governador; sim, mais o Ministério Público, que viu chifre na cabeça de Ezequias Moreira, um santo que complicou a sogra para ajudar o afilhado Beto. O MP deve agora pedir a prisão preventiva póstuma da Sogra Fantasma, que ao receber dinheiro sem fonte complicou a vida de Beto.