A ‘Abin Paralela’ da Índia

Anistia Internacional acusa Índia de usar programa espião para monitorar jornalistas; ex-deputada denunciou monitoramento semelhante no Brasil.

Anistia Internacional e o jornal The Washington Post divulgaram uma investigação conjunta que acusa o governo indiano de usar o programa de espionagem israelense Pegasus contra jornalistas.

De acordo com a investigação, os jornalistas Siddharth Varadarajan, do The Wire, e Anand Mangnale, do Organized Crime and Corruption Reporting Project, foram alvos do spyware em seus iPhones. O Pegasus é um programa desenvolvido pela empresa israelense NSO e vendido a governos de todo o mundo. Ele pode ser usado para acessar mensagens telefônicas e de e-mail, ouvir chamadas, rastrear localização e até filmar o proprietário com sua própria câmera.

A Anistia Internacional afirma que o governo indiano usou o Pegasus para monitorar os dois jornalistas por causa de seu trabalho investigativo. Varadarajan é fundador e editor-chefe do The Wire, um site de jornalismo investigativo que tem criticado o governo indiano. Mangnale é diretor do Organized Crime and Corruption Reporting Project, uma organização que investiga crime organizado e corrupção.

O governo indiano não respondeu às acusações da Anistia Internacional. Em 2021, o governo já havia negado alegações semelhantes de ter usado o Pegasus para monitorar opositores políticos, ativistas ou jornalistas.

A Índia tem uma longa história de repressão à imprensa, e o governo do primeiro-ministro Narendra Modi (foto, à esquerda) tem sido acusado de aumentar ainda mais a perseguição. A Comissão da União Europeia para Liberdade de Imprensa, Informação e Democracia também condenou a investigação, dizendo que ela “é um ataque à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão”.

Abin Paralela bolsonarista

“Abin Paralela” era uma estrutura não-oficial de espionagem paralela à Agência Brasileira de Inteligência, que teria sido criada pelo governo Jair Bolsonaro (foto, à direita). A estrutura seria chefiada pelo delegado Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin e atual deputado federal (PL-RJ), e tinha como objetivo coletar informações sobre adversários políticos do governo, incluindo jornalistas, políticos e membros da oposição.

A existência da Abin paralela foi denunciada pela ex-deputada Joice Hasselmann, em dezembro de 2020, durante a Comissão Parlamentar Mista (CPMI) de Inquérito das Fake News. Hasselmann disse que havia ouvido falar do plano de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, de criar uma estrutura de inteligência dentro do Palácio do Planalto para monitorar adversários, jornalistas e autoridades, criar dossiês contra opositores e influenciar no debate público.

Após a revelação, a Polícia Federal iniciou uma investigação sobre a Abin Paralela. Em março de 2021, a PF realizou uma operação em busca de provas de irregularidades na estrutura. A operação foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A investigação da PF ainda está em andamento, mas há suspeitas de que a Abin Paralela tenha cometido crimes, como espionagem ilegal e abuso de autoridade.

A estrutura da Abin paralela era composta por agentes da Abin, policiais federais e militares. A estrutura também contava com a colaboração de empresários e apoiadores do governo. A criação da Abin paralela foi considerada uma ameaça à democracia brasileira.

Além disso, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro foi apontado em reportagens como tendo tentado adquirir o software de espionagem Sherlock, que visa monitorar servidores do próprio governo, e o próprio Pegasus. Em outubro, dois servidores da Abin foram presos pela Polícia Federal

Uma investigação realizada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concluiu que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) utilizou um sistema de monitoramento da localização de celulares no Brasil sem o conhecimento ou consentimento das operadoras de telefonia. Esse sistema, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (anteriormente conhecida como Verint), explorava uma vulnerabilidade no sistema de telecomunicações para obter a localização dos dispositivos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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