A batalha da significação

“A história de minha mãe ninguém apaga, não.”

DE LUIZ CLÁUDIO Lula da Silva no X (ex Twitter) sobre a supressão de trecho de homenagem a Marisa Letícia inserido por Lula na publicação da Fundação Perseu Abramo para celebrar os 44 anos do PT. O texto original dizia o seguinte: “No começo era apenas um retalho de pano vermelho, que a Marisa pegou e costurou uma estrela branca por cima”. Quatro horas depois o site da Fundação deletou a parte em itálico, de autoria de Lula – autoria visível à simples análise de estilo. No mesmo dia, em reviravolta digna dos anais estalinistas, o trecho suprimido foi restaurado no site da Fundação. A revolta de Luiz Cláudio é gratuita, seja pelo papel da mãe como matriarca do PT, seja como mártir do partido, pelo qual pagou com a saúde e com as dores da perseguição à família.

Basta lembrar a campanha de Fernando Collor, que trouxe para o palco da sujeira a relação de Lula com a mãe de Lurian, sua filha mais velha, nascida de relação com Mirian, que foi à televisão difamar o então candidato. A revolta de Luiz Cláudio não parece ser gratuita, pois no mesmo X ele acrescenta à defesa da mãe que “coisas estranhas vêm acontecendo” – uma insinuação que é sobre o BBB24. Óbvio que a trapalhada – cuja fonte e inspiração não é difícil adivinhar – teve o objetivo de obliterar o papel histórico de Marisa Letícia, a quem Lula jamais cansou de valorizar e dedicar juras de amor. O que se desenha é um conflito emocional e psicológico de significação, esse que a Janja da Silva desenha para si mesma, da ressignificação da primeira dama (coisa idiota que, fizesse sentido, estaria na Constituição).

Como este Insulto partilha suas muitas dúvidas e as pouquíssimas certezas com os leitores, uma destas – diria categórica – é que nos sucessivos textos da Fundação sobre o aniversário do PT travou-se luta entre a ressignificação e a dessegnificação com a vitória da verdade, que foi a significação, quase um drama shakespeareano, em que o vivo combate o espírito do morto que o atormenta.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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