A caminho da cura

NELSON RODRIGUES numa simples crônica (como se as crônicas de Nelson fossem simples) elaborou um tratado de antropologia social do Brasil. Foi no ‘Complexo de Vira-Latas’, em que, sob o fundo da decepção pela derrota da Seleção, descreveu a essência do caráter do brasileiro: temos complexo de inferioridade diante do estrangeiro.

MUITO de nosso ser e estar decorre do complexo. Tem o jeito acanhado no Exterior. Tem a compulsão de imitar o estrangeiro em tudo, roupas, hábitos, expressões, até defeitos. O complexo avança na colonização cultural, no consumo de filmes, teatro e literatura estrangeiras. O estrangeiro tem sido, ainda é, melhor que nós.

TRATAR O COMPLEXO é demorado, caro, cansativo. Exigem-se medidas radicais, drásticas, de horizontalidade geral e brutal. Ainda é praticado em outros países. Consiste em fechar-se cega e orgulhosamente ao estrangeiro, repudiá-lo, recusar o apoio e a ajuda que oferece. Há exemplos, o Haiti, Cuba, Coreia do Norte. O Brasil já ensaia o experimento.

SEREMOS CURADOS do complexo por alguém ignorante do caráter nacional, do ser, da cultura, da essência e dos valores brasileiros. Que não é educador, cientista social, psicólogo social, artista popular ou pregador evangélico. Mas nos irá suprir a carência de auto-estima. A cura virá de Jair Bolsonaro. Com ele, seremos todos vira-latas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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