A festa dos Bolsonaros

Nada que cheira a podre neste governo acontece só por ideologia. Envolve também muito dinheiro

Neste Natal, ninguém desejará boas festas a Jair Bolsonaro e aos seus. Eles não precisam. Já estão festejando desde que seu líder sentou-se na cadeira em 2019 e, para gáudio dos papalvos, anunciou o fim da mamata. Três anos depois, as mamatas abundam e para todos os gostos —algumas escandalosas, baratinhas; outras fora do radar, mas de bilhões.

No primeiro grupo, está o uso que os Bolsonaros, seus ministros, aliados e amigos fazem dos aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) para fins turísticos. É um festival de pândegas em resorts, ilhas e praias, envolvendo lanchas, jet skis, cavalos e outros luxos, com pilotos, gasolina e manutenção pagos por você. No ano passado, no auge da pandemia, o filho 01 levou a família para um hotel na praia de Taíba, no Ceará, com diárias a partir de R$ 3.500. Foi aquela viagem em que, ao tirar um fino de um banhista na areia, 01 capotou com seu quadriciclo e esbodegou ombro e omoplata.

O ministro Marcelo Queiroga, da pasta da Morte, também não demorou muito para, deslumbrado, evoluir da mediocridade de seu consultório para as patuscadas oficiais. Segundo denúncias, vive levando parentes pelo Brasil nas asas da FAB. Mas não o culpem —o ex-médico é só um dos ministros adeptos da “farra das passagens”, como a chamam. Suas despesas nem se comparam às das concorridas expedições a Israel, Dubai e outros centros visitados pelo filho 03, em torno de negócios aparentemente vagos, mas que talvez não o sejam tanto.

E este é o ponto. Desmatamento, garimpo e ocupação ilegal de terras, importação de vacinas inexistentes, fabricação de cloroquina, venda de estatais, a entrega da chave do cofre ao Congresso —nada que cheira a podre sob Bolsonaro acontece apenas por viés ideológico. Envolve também muito dinheiro, seja para quem for, e destina-se a garantir sua eternidade no poder.

Lavagem, peculato, laranjas, micheques, rachadinhas? Dinheiro de troco.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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