JAIR BOLSONARO “acionou” o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para investigar a investigação do caso Marielle Franco. Foi o que declarou ontem, cuspindo fogo, em rede social sobre o depoimento de porteiro do condomínio em que residia, no Rio, declarando que um dos suspeitos do assassinato da vereadora carioca teria comparecido à casa do presidente. O suspeito tinha ligações com outro morador do condomínio, também supostamente envolvido no crime, não relacionado na visita.

O presidente mais uma vez desembestou. Ainda que indignado, ainda que pateticamente assumindo que perde o sono com tais acusações, ainda que com o justo sentimento da injustiça, ele tem que mostrar serenidade, ainda que fingindo, ainda que ao preço de ansiolíticos, antidepressivos ou estabilizadores de humor. Porque, como demonstrou em perfeita imagem o ministro Celso de Mello, um chefe de Estado tem compromisso com a gravitas, a solenidade do cargo, o equilíbrio uma de suas expressões.

Bolsonaro foi o mesmo de sempre, o tenente desabrido e incontrolável. Depois de acenar com a gravitas no pedido de desculpas ao STF pela fábula do leão e das hienas, agiu como o homem comum ofendido. Ele não é homem comum, é presidente, quando dorme, quando tem insônia, quando é ofendido e quando é elogiado. Só ditadores, coisa que – ainda – não é, usam o tom de sua fala de ontem. Um presidente, como os reis da Idade Média, é duas pessoas, a pública e a privada, uma hierática e formal, a outra, mais ou menos.

O vazamento sobre o inquérito tem, evidente, as digitais que o presidente apontou, ninguém ignora. Bons conselheiros mostrariam ao presidente a utilidade do comportamento de mestres nesses assuntos, como José Sarney e Michel Temer, de reverter o quadro, apontar a falha dos responsáveis. Um presidente, ainda que acossado como Bolsonaro – que faz tudo para ser e merecer -, deve impor-se controle. A menos que queira desencadear uma reação que nos leve ao limite, à guerra civil.

Nosso presidente foi militar, estudou nas Agulhas Negras, sabe matemática básica e regras elementares de português, mas da história do Brasil só retirou a interpretação unilateral e ideológica fornecida em sua academia. Nada de insistir aqui que a história se repete, que ao fim e ao cabo é figura de retórica. Mas não custaria ao presidente – ou alguém para ele – investigar também em que medida comportamentos como o que exibe desde que assumiu levaram ao desastre, tanto do político quanto do Estado.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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