Há muitos modos de tremer as perninhas. Não sei se uns são melhores que outros. Sei que uns são mais vistosos ou mais divertidos. Lembro sempre do Jorge Luis Borges nos últimos tempos. Ele dizia que, como o pai, desejava morrer inteiramente. Quer dizer, fim, se acabou, kaputt. Nada de ficar baixando em centro espírita, indo pro paraíso ou pro inferno, ou fazendo alguma outra coisa mais escabrosa ainda. Se a morte não é o fim mesmo, é uma espécie de fraude, não? Mas Borges estava cansado, esperava a morte como um alívio.
Também lembro sempre do meu avô materno. Tremendo gozador, instantes antes de morrer ainda tinha energia pra se divertir às custas dos outros, como com o enfermeiro, no hospital, na hora do banho. Quando o cara lhe segurou o tico para passar a esponja, disse como quem não quer nada: “Te pagam bem pelo serviço?”
Meu avô não queria morrer de jeito nenhum. Apesar de tudo – resumia sua vida, rindo: “Como sofri” – não se sentia cansado. Não tinha medo de morrer, pelo que notei. Simplesmente não queria largar o osso. Talvez seja muito esperar fugir de um fim melancólico. Mas tem gente que merece. Eu – bem, se eu não pedir penico, já está bom.