Cada dia

Ainda que eu andasse
pelo vale das sombras da morte
onde se esgueiram negros cães feridos
e tristes mendigos não mendigam mais
e onde os poderosos passam televistos
de perfil, na maciez de seus veículos blindados
(levam no sangue os venenos que excitam
nos dedos os anéis dos crimes mais cruéis
nos olhos os punhais que nunca dormem
nos dentes as cáries domadas
a ouro, ferro, metais
que trituram na raiz todos os ais
do coração) eu não temeria mal algum
o meu amor me guarda a travessia
de cada dia.

– Abel Silva, no livro “Asas – solos de lira elétrica”. Editora Muro, 1975.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em poesia e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.