Abraão Cohen, um freguês difícil de contentar

Abraão Cohen, um senhor idoso e viúvo, percebeu que abriu um restaurante especializado em sopas perto de sua casa e passou a frequentá-lo todos os dias para o almoço.

Logo ele se habituou a pedir a sopa do dia, servida com duas fatias de pão. Depois de algum tempo, vendo que o cliente era assíduo, o gerente resolveu perguntar se ele gostou da refeição.

Com forte sotaque iídiche, Abraão respondeu:
– “Gostei, mas você poderia ter me dado um pouco mais de pão.”

No dia seguinte o gerente disse à garçonete para dar quatro fatias de pão ao senhor, e, ao término da refeição, perguntou:
– “E então, senhor Abraão, como estava a sopa hoje?”

O velhinho respondeu:
– “Estava boa, mas acho que vocês podiam servir um pouco mais de pão.”

A partir daí o gerente ficou obcecado pela vontade de ouvir o cliente admitir que a refeição estava boa, sem nenhuma crítica.  No outro dia, ao ver Abraão entrando, orientou a moça que o atendia para levar oito fatias de pão.

Quanto entregou a conta na mesa o gerente repetiu a pergunta de sempre e teve também a mesma resposta:
– “A sopa estava ótima, mas vocês podiam servir um pouco mais de pão”.

Alucinado com o que estava acontecendo, na mesma tarde o gerente foi à padaria que produzia o pão e encomendou uma baguete de 60 centímetros de comprimento.

Imaginando que dessa vez arrancaria um elogio do exigente freguês, ele e a garçonete cortaram o pão no sentido do comprimento, passaram manteiga em ambos os pedaços e esperaram Abraão chegar. Metódico, o idoso chegou no horário de sempre, pediu a sopa do dia e a tomou enquanto comia o enorme pão, sem dizer nada.

Ao término, conta na mão e sorriso nos lábios, o gerente fez a indagação de todos os dias, certo de que finalmente receberia o reconhecimento esperado:
– “O que me diz da sopa de hoje, senhor Abraão? Gostou?”

Com o semblante e o sotaque habitual, ele respondeu:
– “Boa como sempre, mas vejo que vocês voltaram a dar só duas fatias de pão!”

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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