Abraão, o Desaparecido

Abraão e Rubem, dois amigos, ambos viúvos e há muito tempo na terceira idade, mantinham o hábito do encontro diário no parque.

As conversas não variavam muito; a política nacional, a situação em Israel, as lembranças da juventude, o clima, o valor das ações na bolsa, os achaques da velhice, as reclamações sobre os valores das aposentadorias, essas coisas.

De repente Abraão não apareceu e mesmo passados vários dias não deu notícias, deixando Rubem muito preocupado.

Os dias foram passando e depois de um mês, lá estava Abraão, sentado no lugar de hábito.

Rubem ficou muito feliz, especialmente porque o amigo estava com bom aspecto, sorridente como sempre, e ele logo perguntou:
– “Onde você andou? Porque desapareceu?”

E Abraão respondeu:
– “Eu estava na cadeia”.

O amigo, espantado, voltou a indagar:
– “Cadeia? Que maluquice é essa? Qual foi o motivo?”

Abraão disse:
– “Você conhece a Vanessa, aquela moça loira e linda que mora no meu prédio e que de vez em quando me convida para tomar chá no apartamento dela?”

Rubem confirmou:
– “Sim, eu lembro dela. E daí?”

E Abraão explicou:
– “Bom, ela foi à Polícia e me denunciou por estupro. E eu, com meus 89 anos de idade, fui todo feliz para a Corte e me declarei culpado. Quando me viu, o desgraçado do Juiz condenou a Vanessa por acusação falsa e me sentenciou a 30 dias por mentir em juízo!”

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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