Agora há dois pontos que ligam o nome de Bolsonaro ao escândalo das vacinas

O primeiro é a denúncia de Luis Miranda sobre a compra da Covaxin; o segundo é a mensagem de Dominguetti que cita o Gabinete da Presidência no caso Davati

Até o momento, e os momentos começam a suceder-se mais rapidamente, há dois pontos que ligam o escândalo na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde diretamente a Jair Bolsonaro. O primeiro, como não canso de recapitular, é o fato de o deputado Luis Miranda, acompanhado do irmão, Luis Ricardo, funcionário da pasta, ter denunciado o esquema na aquisição da Covaxin em conversa com o presidente da República.

De acordo com o deputado, Jair Bolsonaro disse que era coisa de Ricardo Barros, líder do governo e expoente do Centrão, prometeu repassar a informação para a Polícia Federal e nada fez. A conversa com o presidente da República teria sido gravada pelos irmãos Miranda e, nela, ao que tudo indica, o presidente da República faz menção a outros deputados da base governista. A CPI da Covid precisa convencer Luis Miranda a entregar o áudio da conversa com Jair Bolsonaro, porque seria uma prova concreta do crime de prevaricação do presidente da República.

O segundo ponto surgiu ontem, com a divulgação de mensagens do improvável Luiz Paulo Dominguetti, cabo da PM que se dizia representante da Davati, empresa que estaria tentando intermediar a compra de vacinas AstraZeneca pelo Ministério da Saúde. Quando depôs à CPI da Covid, na semana passada, ele afirmou ter recebido pedido de propina de Roberto Dias, ex-diretor da pasta, em troca da assinatura do contrato. Roberto Dias, homem do Centrão, está sendo ouvido neste momento pelos senadores da comissão. No seu depoimento, Luiz Paulo Dominguetti também apresentou um áudio que implicaria o deputado Luis Miranda no esquema da aquisição das vacinas da AstraZeneca. Não era verdade e, sob ameaça de ser preso, o cabo da PM voltou atrás na história. Provavelmente, Luiz Paulo Dominguetti estava prestando um favor ao tentar desviar o foco no caso de Luis Miranda para o próprio deputado denunciante.

O celular do cabo da PM foi apreendido e, ora veja só, nele havia pelo menos uma mensagem que conecta a safadeza que estava sendo perpetrada ao Palácio do Planalto. Nela, Luiz Paulo Dominguetti afirma a Cristiano Carvalho, tido como um dos representantes da Davati no Brasil, que recebeu um “posicionamento”“Amanhã até 12h passam o e-mail a ele. Só a quantidade que não tem ainda”, disse ele. Cristiano Carvalho pergunta se a informação veio do tenente-coronel Marcelo Blanco, ex-assessor da Saúde. Dominguetti responde: “Gabinete da Presidência da República. Melhor que ele”. Em outro grupo, o cabo da PM afirma que o contrato com o governo federal, no caso de ser assinado, chegaria a render R$ 200 milhões em comissões aos intermediários. E diz a um dos seus interlocutores: “Bora reservar o Jaguar e uma casa em Brasília”.

Urge reconvocar Luiz Paulo Dominguetti e perguntar a ele qual seria o integrante do Gabinete da Presidência da República que lhe deu o “posicionamento” sobre a compra das vacinas da AstraZeneca que renderia propinas e comissões milionárias. Seria bazófia do picareta? Também é necessário entender qual seria o papel do tenente-coronel Marcelo Blanco nisso tudo. Se o cabo da PM foi “plantado” na CPI da Covid para tentar desqualificar a denúncia de Luis Miranda e empurrar o grosso da sujeira para Roberto Dias e os seus patrões, o estratagema foi de uma burrice sem tamanho. Antes, havia apenas uma história envolvendo o nome de Jair Bolsonaro; agora, existem duas. E a coisa está tomando um vulto que nenhum toma lá dá cá poderá segurar.

Mario Sabino

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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