Jane Fonda continua uma fera. O problema é subir no camburão aos quase 82 anos
Se tudo correr como nas últimas quatro sextas-feiras, Jane Fonda será presa de novo hoje por protestar nas escadarias do Capitólio, sede do Congresso americano, em Washington, contra a destruição do ambiente. Há várias semanas, Jane –famosa por filmes como “A Noite dos Desesperados” (1969), “Julia” (1977) e “Amargo Regresso” (1978)– se junta a um grupo de ativistas e vai se manifestar. A polícia a abotoa, passa-lhe as algemas, atira-a num camburão e a leva para se explicar. Na primeira vez, Jane foi liberada algumas horas depois, mas, na segunda, teve de dormir na grade. E, a partir daí, tem sido assim. Ela está achando ótimo, porque isso chama mais a atenção para o seu gesto.
Jane sempre foi partidária das causas liberais. Suas campanhas, desde os anos 60 e todas meritórias, envolveram os índios, a Guerra do Vietnã, Richard Nixon, as usinas nucleares e, agora, a ecologia. Só que Jane está às vésperas dos 82 anos. Há dias, ela admitiu que, para a ação, a idade já começa a pesar. Não é fácil, por exemplo, subir no camburão algemada. Quando a polícia chega, não dá mais para correr –o jeito é se entregar. E ela precisa lembrar-se de levar na bolsa, para a noite na prisão, um jogo de fraldas descartáveis. Palavras dela.
Entendo bem Jane. As passeatas contra a ditadura, de que participei no Rio nos anos 60, envolviam correr muito, apanhar de cassetete, levar bombas de efeito moral e, em caso de captura, passar a noite numa cela inóspita do Dops, na rua da Relação –o que me aconteceu como estudante, uma vez, em 1967.
Hoje, se quisesse me arriscar a algo parecido, teria de sair de casa munido de atestado médico e de um estojo com os remédios para colesterol, pressão, glicose, tiroide e outros. Não se pode depender da farmácia da polícia. Jane deveria vir nos visitar. O ambiente aqui, para qualquer lado que se vire, está irrespirável.