O não-sexo (sim, ele existe)

Crédito-suckmypixxxelUm amigo casado outro dia me mostrou o celular cheio de mensagens. “Hoje rola?”, perguntava uma menina, dizendo que o namorado ia passar a noite fora. Outra garota sugeria um menàge com outro cara. “Chance única”, ela ameaçou. Nesta noite atípica, ele disse não para as duas. “Vou buscar minha filha na escolinha e dormir cedo”, explicou. Pegaria as pretês em outra ocasião.

Eu, que não sei o que é dar para uma pessoa só por uns dez anos, não pretendo (nem quero) julgar o que fazem os entediados quando estão fora de casa. Mas fico curiosa com o que leva cada um a pular a cerca. A maior parte me diz que nada substitui o prazer de uma fodinha nova, de mais uma conquista. O tesão da era consumista precisa de novidade. Isso, claro, quando a transa com outrem foge ao acordo que eles e elas têm com os parceiros. Muita gente já abraçou o pluriamor.

Mas muitos também reclamam da frequência do sexo em seus relacionamentos. O meu amigo do celular, por exemplo, me diz que só transa com a mulher umas quatro vezes por mês. “Aí não dá”, falou. Quando ouvi isso suei frio. Mas peraê, pensei, isso dá uma vez por semana. Eu também só ando comendo o meu uma vez por semana. Tenho outro amigo que reclama que a mulher só topa uma vez por mês –nesse caso, o tom de velório nunca me surpreendeu–, mas toda semana é grave?

A Diana de 20 e poucos anos acharia uma vez por semana um escândalo. Eu morava com um namorado e a gente transava umas três ou quatro vezes. Mas para lá dos 30, convenhamos, a vida ficou diferente. E não só a minha, me diz o senso comum. Mas de toda forma fui perguntar por aí.

Segundo a minha pesquisa nada científica, fora do mundo do pornô, dos blogs de sexo, da solteirice e da minha mente, que graças a deus é pervertida, de fato a trepadinha semanal é a vida real de muita gente. É o que resta de tempo para um casal que trabalha demais, tem muitos planos para o final de semana, se exercita bastante, precisa resolver coisas da casa e ainda quer dormir um tanto razoável. Com filho, então, uma vez por semana é a meta, e olhe lá, me dizem. Quando sobra tempo, esse casal está cansado demais, ou estressado demais, para ter tesão.

Também dizem à boca pequena que mulher estressada não quer sexo, enquanto homem estressado usa o sexo para relaxar. Como anedota, não discordo. Mas obviamente não existem regras para essas coisas.

É grave? Doença terminal? Acho que não –é só fase. O problema é quando a gente se acostuma com este ritmo, e com essa falta de sexo, e acha que está tudo normal. Vamos adiando, porque hoje temos que trabalhar, amanhã é a ioga, na sexta temos happy hour com colegas e no final de semana estamos exaustos demais. Afinal, o outro está ali disponível qualquer dia, não precisa ser hoje…

Ah, mas precisa ser hoje, sim. Não dá pra deixar a inércia se instalar –depois é difícil de sacudir. Então, pela nossa própria sanidade, é preciso se fazer esse carinho. Sexo ganha do episódio de Narcos que você está para assistir. Sexo ganha da ioga. Desliga esse computador, vai, e vamos trepar.

Agora, com quem o sexo multisemanal vai rolar já não é da minha alçada…

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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