Ao encontro de Raquel

O mal de se viver muito tempo é ir-se perdendo no caminho parentes e amigos queridos. Ontem, perdemos Paulo Roberto Ferreira Motta, colega de profissão, colega de escrita, colega de Zé Beto, colega de ideais, amigo querido e uma das mais brilhantes inteligências que conheci.

Não o sabia doente, embora o maldito cigarro que ele tanto cultuava me preocupasse. Certamente, foi o impiedoso vício que o levou, aliado a outros desgostos que carregava, como o ainda recente falecimento de sua querida e inesquecível companheira Raquel.

Paulo era gaúcho de Porto, como dizem os gaúchos, torcedor fanático do Sport Club Internacional. Pensei que tinha recebido o nome como homenagem ao craque do Colorado. Mas o homenageado fora outro Paulo Roberto, o Paulo Vecchio, que também passara pelo Internacional e depois viria o compor o elenco do Coxa do Alto da Glória. Quando a família transferiu-se para Curitiba, Paulo Motta ingressou na Faculdade de Direito da UFPR e na Procuradoria Geral do Estado. Depois foi chefe de gabinete do secretário da Cultura René Dotti, professor da Unicuritiba e passou a colecionar amigos e admiradores.

Quando o mestre Zé Beto ofereceu-lhe espaço no seu blog, Paulo revelou-se um brilhante historiador de personagens e acontecimentos, em textos bem alinhados, com conteúdo e leitores fiéis. Juntos estivemos também no escritório de advocacia dos mestres Romeu Felipe Bacellar Filho e Renato Andrade.

Um dia, Paulo conheceu Raquel, uma bonita mineirinha de Uberaba, que participava em Curitiba de um congresso de Direito Administrativo, provavelmente organizado pelo professor Romeu. Encantaram-se um pelo outro, casaram e ganharam como filho Bruninho.

Quando Raquel prematuramente nos deixou, vítima de insidiosa e fatal moléstia, Paulo perdeu o rumo, mas ancorou-se no pequeno Bruno e nas várias homenagens acadêmicas recebidas por Raquel, que se seguiram. Esteve presente em todas, aqui e no Exterior. Agradeceu-as com coragem e muita saudade.

Na semana passada, correu o boato que Paulo Roberto não passava bem, que teria, possivelmente, de passar por uma cirurgia cardíaca. Confirmou-se a necessidade e Paulo, embora ainda relativamente jovem, não resistiu às consequências. Mudou de plano no início da noite de quarta-feira, entristecendo profundamente a todos os que o conheciam e queriam bem.

Restou-nos um consolo: ele foi, antes mesmo do que esperava, ao encontro de sua querida Raquel. Que Deus o tenha acolhido com um carinhoso abraço.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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