Aos mestres, com carinho (e tristeza)

Se, em uma enquete, me perguntassem qual a figura mais importante do mundo, eu não teria dúvida ao responder: o professor! (assim mesmo, como exclamação). Especialmente o (ou a) professor(a) de primeiro grau ou ensino fundamental, sei lá como estão sendo chamados agora aqueles que transformam meninos e meninas em cidadãos. Por isso, a rigor, professor nem é profissão. É vocação e oferecimento de amor. Para Rubem Alves, que dedicou a vida à educação, não existe coisa mais bela que ser um educador.

Domingo, dia 15 de outubro, foi o Dia do Professor. Houve quem comemorasse? A imprensa, talvez, cumprindo a sua obrigação. Ou os governante, de maneira falsa e calhorda. Os mestres certamente não. Não têm motivo para isso. No Brasil varonil, de riquezas mil, o professor é a figura mais aviltada, incluindo no adjetivo os sinônimos desrespeitada, desprezada, desvalorizada, desonrada e todos mais os des aplicáveis. É uma vergonha o que se faz com o professor neste país! Particularmente os governos, em suas variadas graduações.

Quanto ganha um desembargador, um procurador do Estado, um delegado de polícia, um conselheiro do Tribunal de Contas, um deputado, um senador, um governador, um prefeito de Capital, o presidente? Em torno de R$ 40 mil, fora o “alho”, que aqui quer dizer o “por fora” sem o mau sentido, ou seja, as vantagens indiretas, como auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-transporte, auxílio-saúde, verba de gabinete, verba de representação, verba indenizatória e o diabo que o parta. No total pode passar de R$ 100 mil.

Quanto ganha um executivo, um empresário de sucesso, um advogado com boa banca, um arquiteto/decorador que atende às madames em ascensão social ou um médico sem vínculo com planos de saúde? Quantias impossíveis de ser calculadas pelo cidadão comum.

E qual é o salário de um professor? Dá até vergonha responder. Segundo o “doutor Google”, no Brasil, o salário mínimo vigente de um professor de educação básica da rede pública de ensino é de R$ 2.886,24. Mas há muito Estado que não cumpre nem esse mínimo legal. Aqui no Paraná, a média salarial é de R$ 3.622,00, mas a maioria dos mestres da educação infantil recebe pouco mais de R$ 2.000,00 mensais. Na implementação de recente reajuste, o governador afirmou que a remuneração inicial do Quadro Próprio do Magistério chegaria a R$ 3.903,32, podendo ultrapassar os R$ 6.000,00, se englobados o vale-transporte e gratificação. Não é verdade. Minha mulher, aposentada depois de 25 anos de atividade, com estágios realizados e regência de classe, recebe hoje exatos R$ 2.628,46.

Os docentes de instituições particulares percebem um pouco mais, assim como os do ensino superior, com mestrado e doutorado – algo em torno de R$ 6.600 a R$ 12 mil. Quer dizer, é de chorar!

No Brasil da igualdade social pretendida pelo companheiro-presidente e no Paraná da valorização do ensino (!) pelo (in)ativo governador Rato Júnior, os professores têm de lutar por centavos para sobreviver. Tendo em mente uma certeza indiscutível: sem eles, os humilhados e mal remunerados mestres, não haveriam desembargadores, procuradores, delegados, conselheiros do TC, deputados, senadores, executivos, advogados, engenheiros, decoradores, médicos, tampouco presidentes ou o governadores. Algo está errado aí.

Professor não é uma atividade importante, repito. É essencial. Sem ela o mundo não existiria. Por isso, ao beijar em casa minha mulher – que foi doce normalista, “vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco no rostinho encantador”, como flagrou o poeta, e que dedicou anos de sua vida às salas de aula, transmitindo conhecimento, sonhos e amor, para fazer jus, hoje, a pouco mais de dois mil reais por mês, pagos pelo generoso governo do Estado –, estou homenageando com carinho todos os mestres deste país, certo de que não existe missão mais nobre do que ensinar, porque a educação é o alicerce da civilização e o educador é um apaixonado pelo ser humano.

Só os que mandam não sabem disso. Certamente não foram também bons alunos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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