Após grandes fortunas, governo tributa grandes infortúnios

Primeira ação é taxar qualquer super-rico que faça comparação descabida com o nazismo

Uma medida provisória anunciada no início da semana prevê a taxação dos chamados “super-ricos“.

São fundos exclusivos, com investimentos de, no mínimo, R$ 10 milhões, taxas de manutenção altíssimas e impostos baixíssimos.

Apenas 2.500 brasileiros têm recursos aplicados nesses fundos. Quando ouvimos que uma festa reuniu o PIB do país, não é exagero. Mesmo porque os super-ricos andam juntos.

Parece evidente que quem tem muito dinheiro deve pagar impostos como nós, cidadãos comuns; mas muitos tentam defender o indefensável.

O empresário João Camargo, presidente da Esfera Brasil —que promove encontros entre empresários e políticos— diz, em artigo nesta Folha, que o brasileiro com patrimônio deve ser admirado e protegido por suas conquistas e por gerar empregos.

Outro investidor comparou o fim das brechas de tributação dos fundos exclusivos ao holocausto (!). Com os protestos dos endinheirados, o governo, em vez de afrouxar os impostos, decidiu tributar ainda mais.

Após a taxação das grandes fortunas, vai taxar tudo o que incomoda os brasileiros. É a tributação sobre grandes infortúnios.

A primeira medida será tributar qualquer super-rico que faça comparação descabida ao nazismo. Também vai cobrar imposto de lobista de milionário fajuto que diz que super-ricos devem ser recompensados.

Mas a tributação não será restrita aos ricos. Qualquer cidadão que mandar mensagem de áudio de mais de dois minutos será taxado. Áudios de dois segundos com “sim” e “ok” também serão tributados.

Também pagará impostos qualquer estabelecimento que se defina como “instagramável”. Assim como eventos que usam o termo “vivência”, como “vivência de dança”, “vivência de bebês” e “vivência do sagrado feminino”.

Churrasqueiros que furam a linguiça com garfo, salgam a carne antes do tempo e recheiam picanha com queijo serão punidos com altas tributações.

Também serão taxados banhistas que levam caixa de som para a praia, profissionais que chamam mãe de “mãezinha”, supermercado que toca MPB sussurrada, Dinner in the Sky, quem fala “eu pago meus impostos”, racistas que falam “eu não sou racista, mas…” e obituários de jornal.

Por último, será tributado o super-rico que disser coisas como “eu pago todos os meus impostos”, “eu gero empregos” e “se sou rico é porque eu mereci”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Flávia Baggio - Folha de São Paulo e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.