Arejar-se

É preciso arejar-se, respirar ares de possibilidades, mas com muita responsabilidade. O velho mundo sucumbe às velhas ideias, enquanto o perigo ronda e renova-se em mutações das mesmas amarras, de iguais problemas.

É preciso arejar-se, sim, com o máximo zelo e ainda sob o rigor da segurança compartilhada, premiando a contribuição para um bem que seja de fato coletivo, por bem da convivência. Só faz sentido superar e aprimorar-se dessa forma; Só se valoriza o que se enfrentou, resistiu – e só se deixa ir com suavidade e delicadamente o que não fizer sentido reter – sob a égide dessa consciência maior.

Os estádios lotados se enchem de dúvidas. E a Europa verga-se aos negacionismos e às variações sorrateiras dos nossos deslizes e individualidades. Arejar-se é imprescindível, mas sem se apequenar nos anseios desesperados pelo peso e volume acumulados dessa espera.  Ser maior, engrandecer, significa cultivar sempre aquela esperança que brota da consciência do que se aprendeu, sem tropeçar nos obstáculos e convites à comodidade dos retrocessos.

É vital, sim, deixar o sofrimento para trás e olhar adiante, com vontade inovadora, a passos sérios e assertivos, não em empresa de uma fuga desastrada do que não se aguenta mais enfrentar. Sejamos maduros e honestos com nossos próprios acertos de contas.

De dentro de si…

Após aquela imersão na alma, no autoconhecimento e suplantada uma série de provações individuais no caminho do tal desenvolvimento espiritual, demandado pelos dias atuais, logo vai chegar o momento também de sair de dentro de si, para fazer funcionarem as interações da pessoa recém descoberta e desvelada. Não há dúvidas sobre a grande aula de reflexão que a pandemia ditou à rotina de todos, independentemente das diferentes percepções, interpretações e posturas adotadas nesse período que ainda se arrasta, sem maiores previsões ou compreensões claras a respeito do seu desfecho.

Muitas são as crenças e as desilusões no direcionamento das consequentes interações. Tão grande quanto o aprendizado, impõem-se os desafios. As atitudes, comportamentos e reações serão compatíveis com a consciência que se desenvolveu no silêncio, no isolamento, no fundo do olhar espelhado com que se encarou e se comprometeu a ser e fazer-se diferente? Eis a questão a ser testada, colocada à prova. Checada com cuidado.

Será tarefa fácil transportar as elaborações e decisões pactuadas no silêncio da intimidade para o cotidiano da socialização e para a aplicação prática das interações compartilhadas? Que percalços serão atravessados ou vencidos para que essa combinação de fato aconteça? Já vamos descobrir.

O coração preenchido vai ficar ali, intacto na memória dos sentimentos, como um sinalizador das buscas e da perseguição do que nos supre de certezas, significados, e norteia os nossos desejos e vontades mais livres e espontâneas.

Que o amanhã nos abençoe de sabedoria. E legue a nós um presente enlaçado pela fraternidade.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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