Falei algum tempo atrás na nova arte literária que consiste em pegar romances clássicos e misturá-los, de maneira irreverente, com histórias de terror. O exemplo mais conhecido é “Orgulho e Preconceito e Zumbis” (2007), onde o romance de Jane Austen foi interferido por uma narrativa macabra de Seth Grahame-Smith. Aqui no Brasil a moda está pegando, e aí está meu comparsa Lucio Manfredi que não me deixa mentir, com seu “Dom Casmurro e os Discos Voadores” (2010).
Como isso se dá apenas com obras que estão em domínio público, não há nenhum problema jurídico. O problema, se houver, é estético, pois muitos leitores têm uma certa noção da intocabilidade da obra, e se assustam com essas interferências. Eu não vejo nada de mais, pois elas não prejudicam nem Jane Austen nem Machado de Assis. Isso me lembra a história daquele roteirista que adaptou para o cinema um romance famoso. Após o lançamento do filme alguém o acusou: “Voc mutilou o livro de Fulano!”, ao que ele respondeu: “Não mutilei nada. Pode ir na livraria ou na biblioteca, o livro dele continua intacto”. Pois é. “Pobrema” era se a cada paródia ou a cada adaptação a obra original fosse modificada irremediavelmente. Não é o caso.
Existe uma nova moda, agora. A editora U Star aceita encomendas para fazer pequenas tiragens de livros clássicos trocando os nomes dos personagens originais pelos nomes indicados pelo cliente. (Ver aqui: http://bit.ly/HSgvrd). Olha que presentão para o Dia dos Namorados: uma edição do “Romeu e Julieta” de Shakespeare em que os nomes dos protagonistas serão trocados pelos do encomendador e de sua namorada, passando a peça a intitular-se, por exemplo, “Wandergleysson e Tábatha Semyramis”. O regulamento diz: “Após escolher o livro desejado, você deve indicar sua capa preferida e dedicar 5 minutos ao preenchimento de um formulário, fornecendo os detalhes para a personalização do livro, o qual será impresso exatamente de acordo com as informações que você prestou, com exatamente a mesma grafia. Recomendamos que examine este aspecto, inclusive as letras maiúsculas dos nomes e dos lugares. Não devolveremos o dinheiro em caso de erros de grafia”.
Aparecer com seu nome no lugar do nome de um personagem não é muito diferente de ir a um parque de diversões, ou a um restaurante como o Mangai, e tirar um retrato botando o seu rosto naquela abertura circular no rosto de um boneco. Uma brincadeira ingênua, como muitas outras que hoje podem ser feitas em 5 minutos no Photoshop. Mas algo me diz que a maioria das encomendas vai ser de gente querendo puxar o saco do patrão, dando-lhe livros em que ele se torna seu personagem preferido.