R$ 4 milhões por criticar uma lei

Ministério Público quer coibir antissemitismo, mas pede punição desmedida para fala de influencer que nada tem de racismo

Ser contra uma lei não significa infringir essa lei. O discurso crítico à criminalização das drogas não é apologia do uso dessas substâncias. Uma platitude, de fato, mas no Brasil o STF precisou afirmar o óbvio —no caso, em decisão sobre passeatas a favor da liberação da maconha.

Contudo, em fevereiro de 2022, Bruno Aiub caiu na besteira de dizer num podcast que a lei deveria permitir a criação de partidos nazistas. Apologia da ideologia abjeta de Adolf Hitler. Assim foi tachada a fala, apesar de seu cerne ser propalado por alguns pensadores de esquerda, como Noam Chomsky, que defende a liberdade de expressão de pessoas e grupos nazistas a partir de uma perspectiva ampla do conceito dessa liberdade individual.

A ideia do influencer, conhecido como Monark, foi imediatamente rechaçada por Tabata Amaral (PSB-SP), que participava do programa. A deputada federal alertou que o nazismo coloca a população judaica em risco. Redes sociais entraram em polvorosa, com críticas à fala e análises sobre sua legalidade.

Ou seja, a esfera do debate público entrou em ação: brota uma opinião aqui, que se choca com outra acolá e, assim, a sociedade filtra novas e velhas ideias sem fazer uso de censura —um método engenhoso descrito pelo filósofo John Stuart Mill, em livro publicado em 1859, e hoje verificado em democracias liberais ao redor do mundo.

Mas o Ministério Público de São Paulo não achou suficiente. Abriu inquérito e, na quinta (21), apresentou à Justiça uma ação civil na qual pede que Monark pague nada menos que R$ 4 milhões em indenização por ter dito que discorda de uma lei.

Com essa exigência tresloucada, o órgão visa punir o antissemitismo de uma fala que nada tem de racista —já que se refere a um determinado conceito de liberdade de expressão.

Enquanto isso, o ex-presidente do PT José Genoino pede boicote a empresas de judeus. E ele não está só no apoio a ideias do tipo, que vêm pipocando nas redes sociais desde o ataque terrorista do Hamas a Israel.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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